NESTA CIDADE DO RIO
“Nesta cidade do Rio,
de dois milhões de habitantes,
estou sozinho no quarto
estou sozinho na América”.
(A Bruxa – C. D. Andrade)
Estarei sozinha?
Nesta cidade do Rio, de muitos milhões de habitantes, velhos e moscas, ordeiros e murmurantes, aguardam sua vez nas filas de pensão.
Há pouco, o som de um tiro anunciou luta a meu lado, o tráfico matando alguns enquanto sofre a baixa de mais um pseudochefão.
Camelôs, ao sol, vendem sonhos roubados para comprar a sobrevida.
Famílias alugam seus filhos, cobrando culpas e vendendo indulgências nos sinais.
Da janela, vejo os ônibus se enchendo de dores e de tédio e imagino um metrô abarrotado de cansaço e sonhos em vão.
Enquanto isso, shoppings centers oferecem um oásis refrescante de alienação e consumo e aviões deixam um rastro branco no céu, dissipados vestígios de impolutas consciências empresariais.
Fecho a janela e os ouvidos, mergulhando meu cansaço no regaço das palavras.
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