A Vendedora de Palavras
Belisa Crepusculario era uma vendedora de palavras. Para ela, a linguagem era um fio inesgotável, tecido como se a vida se fizesse ao contá-la.
Belisa também vendia contos,
“...mas não eram contos de fantasia e, sim, longas histórias verdadeiras que recitava de enfiada, sem nada saltar. Assim levava as notícias de um aldeia para a outra. As pessoas lhe pagavam para juntar uma ou duas linhas: nasceu um menino, morreu fulano, casaram-se nossos filhos, queimaram-se as colheitas. (...) A quem lhe comprasse cinqüenta centavos, dava de presente uma palavra secreta para afugentar a melancolia. Não era a mesma para todos, certamente, porque isso teria sido um engano coletivo. Cada um recebia a sua, com a certeza de que ninguém mais a empregava para esse fim no universo inteiro e para além dele.”
(Allende, Isabel- Contos de Eva Luna – p.14)
Somos todos contadores de histórias. Diferentes de Belisa, não as vendemos, damos.
Não por sermos bons e generosos mas por precisarmos de testemunhos. Contar uma história implica em, no mínimo, dois, pois necessito que alguém que esteja comigo a me ouvir. Ao contar uma história, conto a minha história. Não há um contador de histórias sem história ou uma história sem seu contador. E não há nem um nem outro se não houver uma platéia a quem esta história for dirigida. Como é comum entre os contadores e sua audiência, contamos um conto que, mesmo tendo sido contado inúmeras vezes, pelo próprio ato de contar, é recriado, a cada vez, em um novo conto.
Contamos contos para contar-nos quem somos.
Mal escrevo e Anouk comenta: E os contos que ela conta para ela mesma?
Eu respondo como vejo e sinto: A voz que me conta um conto é sempre a voz de um outro. Mesmo quando essa voz é minha.
Belisa também vendia contos,
“...mas não eram contos de fantasia e, sim, longas histórias verdadeiras que recitava de enfiada, sem nada saltar. Assim levava as notícias de um aldeia para a outra. As pessoas lhe pagavam para juntar uma ou duas linhas: nasceu um menino, morreu fulano, casaram-se nossos filhos, queimaram-se as colheitas. (...) A quem lhe comprasse cinqüenta centavos, dava de presente uma palavra secreta para afugentar a melancolia. Não era a mesma para todos, certamente, porque isso teria sido um engano coletivo. Cada um recebia a sua, com a certeza de que ninguém mais a empregava para esse fim no universo inteiro e para além dele.”
(Allende, Isabel- Contos de Eva Luna – p.14)
Somos todos contadores de histórias. Diferentes de Belisa, não as vendemos, damos.
Não por sermos bons e generosos mas por precisarmos de testemunhos. Contar uma história implica em, no mínimo, dois, pois necessito que alguém que esteja comigo a me ouvir. Ao contar uma história, conto a minha história. Não há um contador de histórias sem história ou uma história sem seu contador. E não há nem um nem outro se não houver uma platéia a quem esta história for dirigida. Como é comum entre os contadores e sua audiência, contamos um conto que, mesmo tendo sido contado inúmeras vezes, pelo próprio ato de contar, é recriado, a cada vez, em um novo conto.
Contamos contos para contar-nos quem somos.
Mal escrevo e Anouk comenta: E os contos que ela conta para ela mesma?
Eu respondo como vejo e sinto: A voz que me conta um conto é sempre a voz de um outro. Mesmo quando essa voz é minha.
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