BOAS MENINAS VÃO PARA O CÉU?
Matutei um bocado enquanto caminhava junto ao mar. Bem que já tinha percebido que a gente só filosofa quando a vida fica meio atrapalhada de se viver. As aflições do dia a dia e do convívio são, em geral, as musas inspiradoras para reflexões metafísicas.
Pensava a respeito de alguns acontecimentos, quando uma frase surgiu em minha cabeça:
Boas meninas podem ir para o céu, mas vivem no inferno.
Dez entre dez boas meninas alguma vez na vida já exclamaram, magoadas:
-Isso não é justo!
Lição especial para boas meninas:
A vida não é justa. Justiça não é uma característica obrigatória da vida. É um fato que nada tem a ver com a vida ser boa ou má, ou se somos bons ou maus. Pode haver justiça na vida. Ou não.
O sentimento de ter sido injustiçado não é nada agradável, não mesmo. O ponto é que alguém nos feriu. Tomou ou não nos concedeu algo a que supúnhamos ter direito. Respeito, consideração, lealdade, amor, amizade, a lista é longa. Agiu de uma forma que colocou em cheque nossas idealizações mostrando, de forma inequívoca, que nossa expectativa de perfeição não foi atingida nem correspondida.
Como a gente age em relação a isso é que vai fazer a diferença. É incrível como é difícil perceber que o outro pode e faz exatamente aquilo que pode. Não poder no sentido de poder ou autoridade, mas poder no sentido de ser capaz, de limite de possibilidades. E isso nada tem a ver com bondade ou maldade, com justiça ou injustiça.
Coisas boas acontecem para pessoas más e coisas ruins acontecem para pessoas boas. Só que quando algo de ruim acontece para uma boa menina, é uma tragédia.
Boas meninas caem no inferno, numa dor misturada com vergonha, mortificação, zanga, vórtex de emoção, percebida ou não, caldeirão de fúria cega e implacável. “Como podem fazer isso comigo?” é a pergunta inevitável.
Há uma subdivisão na categoria boas meninas: as furiosas e as mártires.
As furiosas têm a vantagem de perceber e sentir claramente a raiva. Claro que a raiva é raiva santa, tipo americano paladino da democracia contra o resto do mundo indigno, Cruzados na Idade Média, Arianos a favor da pureza da raça, caçadores de bruxas ( as más meninas), esse tipo de coisa.
"Levou-me ao inferno? Levo-te junto comigo, olho por olho, dente por dente, tornaste pó minha imagem idealizada refletida nos teus olhos, meu espelho. Precisas ser perfeito, em tudo, para que eu me sinta perfeita!"
No caso das mártires, os caminhos são mais tortuosos, indiretos. Boas meninas têm um certo quê de “me bate que eu gosto”. Quanto pior as tratam, mais chances de provarem ao outro e ao mundo como são boas. Precisam que exista alguém mau que lhes garanta o céu. O lugar de mártir lhes cai como uma luva ao permitir que um outro se instale no lugar de algoz.
Boas meninas se acham ótimas. Na verdade, não se acham muito não, mas fazem um esforço grande em parecer, exigindo que o outro lhes seja perfeito para não correrem o risco de ter sua auto-imagem arranhada. Boas meninas são como a Rainha de Copas com suas constantes ordens de decapitação _ exímias em bradar a torto e a direito:- Mau! Mau! Mau!
Na verdade, para boas meninas, mais importante do que ser uma menina boa é parecer uma boa menina. É aí que começa o inferno delas. Viver o tormento constante de perder uma bondade que não lhe pertence em vida.
Bondade assim, só no céu.
Pensava a respeito de alguns acontecimentos, quando uma frase surgiu em minha cabeça:
Boas meninas podem ir para o céu, mas vivem no inferno.
Dez entre dez boas meninas alguma vez na vida já exclamaram, magoadas:
-Isso não é justo!
Lição especial para boas meninas:
A vida não é justa. Justiça não é uma característica obrigatória da vida. É um fato que nada tem a ver com a vida ser boa ou má, ou se somos bons ou maus. Pode haver justiça na vida. Ou não.
O sentimento de ter sido injustiçado não é nada agradável, não mesmo. O ponto é que alguém nos feriu. Tomou ou não nos concedeu algo a que supúnhamos ter direito. Respeito, consideração, lealdade, amor, amizade, a lista é longa. Agiu de uma forma que colocou em cheque nossas idealizações mostrando, de forma inequívoca, que nossa expectativa de perfeição não foi atingida nem correspondida.
Como a gente age em relação a isso é que vai fazer a diferença. É incrível como é difícil perceber que o outro pode e faz exatamente aquilo que pode. Não poder no sentido de poder ou autoridade, mas poder no sentido de ser capaz, de limite de possibilidades. E isso nada tem a ver com bondade ou maldade, com justiça ou injustiça.
Coisas boas acontecem para pessoas más e coisas ruins acontecem para pessoas boas. Só que quando algo de ruim acontece para uma boa menina, é uma tragédia.
Boas meninas caem no inferno, numa dor misturada com vergonha, mortificação, zanga, vórtex de emoção, percebida ou não, caldeirão de fúria cega e implacável. “Como podem fazer isso comigo?” é a pergunta inevitável.
Há uma subdivisão na categoria boas meninas: as furiosas e as mártires.
As furiosas têm a vantagem de perceber e sentir claramente a raiva. Claro que a raiva é raiva santa, tipo americano paladino da democracia contra o resto do mundo indigno, Cruzados na Idade Média, Arianos a favor da pureza da raça, caçadores de bruxas ( as más meninas), esse tipo de coisa.
"Levou-me ao inferno? Levo-te junto comigo, olho por olho, dente por dente, tornaste pó minha imagem idealizada refletida nos teus olhos, meu espelho. Precisas ser perfeito, em tudo, para que eu me sinta perfeita!"
No caso das mártires, os caminhos são mais tortuosos, indiretos. Boas meninas têm um certo quê de “me bate que eu gosto”. Quanto pior as tratam, mais chances de provarem ao outro e ao mundo como são boas. Precisam que exista alguém mau que lhes garanta o céu. O lugar de mártir lhes cai como uma luva ao permitir que um outro se instale no lugar de algoz.
Boas meninas se acham ótimas. Na verdade, não se acham muito não, mas fazem um esforço grande em parecer, exigindo que o outro lhes seja perfeito para não correrem o risco de ter sua auto-imagem arranhada. Boas meninas são como a Rainha de Copas com suas constantes ordens de decapitação _ exímias em bradar a torto e a direito:- Mau! Mau! Mau!
Na verdade, para boas meninas, mais importante do que ser uma menina boa é parecer uma boa menina. É aí que começa o inferno delas. Viver o tormento constante de perder uma bondade que não lhe pertence em vida.
Bondade assim, só no céu.
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