Clube das Almas Inquietas

Bem vindo todo aquele que quer mais do que o cotidiano pode oferecer

terça-feira, janeiro 20, 2004

Desde ontem me atrapalho com as palavras, as imagens. Nada me satisfaz, alma mais inquieta do que nunca. O que escrevo não é o que desejo, o que desejo não é o que desejo e o que não desejo não é tão indesejável assim e o que não escrevo, ah, esse sim, eu quero.
O que eu sinto, é tanto o que eu sinto, e mesmo se falasse um tanto desse tanto, ainda assim não ia ser muito.
Lembrei de Adélia Prado e aí entendi.
É que sou mulher.

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
- Vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo.
Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
(dor não é amargura).
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável.
Eu sou.
Adélia Prado

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