Clube das Almas Inquietas

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terça-feira, fevereiro 03, 2004

NÃO MAIS JUNTOS

O post deCarlos, de 02/02, foi sobre quando o amor acaba.
Texto lindo, que me levou a colocar aqui algo escrito há muito tempo, mas guardado à sete chaves, uma daquelas histórias secretas de que falei ontem, que precisam ser escritas para serem exorcizadas.



Nossos passos se enroscam e tropeçam,
tornando o caminhar
um esforço gigantesco
que maltrata e muito.
Não quero mais a mesmas coisas que antes.
Não quero mais me calar e ocultar o que
Eu penso, eu sinto, eu quero.
Eu banco mas eu morro de medo.
Não quero mais fazer a troca perversa
do som raivoso, que seja, pelo silêncio mortal.
Quero poder querer o que você não quer.
Ou não querer o que quer.
Quero que a minha vontade seja distinta
Da sua.
Um dia foi a nossa.
Hoje, não mais.
Lembro e me arrepia,
recordar estes momentos recentes
que se arrastavam pesados.
A paralisia e o sufocar
daquele calar permanente.
Mortos de medo.
Mortos de raiva.
Mortos de dor.
Onde nos matávamos
a cada momento
para manter,
inútil sacrifício,
como vivo, um casamento.
Que não é feito de corpos.
Ou de apenas o nosso querer.
Mas é um pacto entre gentes.
Um casamento não é a fusão de dois em um.
Mas o delicado equilíbrio de dois
criarem um três, que é um, sem deixar de ser dois.
Nos atrapalhamos nesta complexa matemática.
Perdemos o passo e o compasso
para realizar esta geometria.
Nos perdemos e não mais fazemos
o desenho, tão lindo, que um dia nós traçamos .
Juntos.
Sinto a culpa de ter tropeçado
quando, buscando o meu passo,
provoco este descompasso
que nos joga pro espaço,
desfazendo nosso laço.
Mas fica sem sentido
deixar de ser, para manter
o que já não é mais.
Queria poder preservar da mágoa,
da dor, da raiva e do ressentimento,
tudo que criamos nestes anos.
Não matemos o sentimento
que nos permitiu criar
lindos desenhos, magníficas pinturas.
Não perdemos nossas obras.
Apenas a habilidade de fazê-las,
juntos.(09/05/99)

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