O DIA DA MARMOTA
Com algum atraso, (foi na segunda-feira) celebro o Dia da Marmota.
Estados Unidos, 02/02/2004 - A famosa marmota Punxsutawney Phil "viu" sua sombra e anunciou, durante o 118º Dia da Marmota, no estado da Pensilvânia, que haverá mais seis semanas de inverno.
Todos os anos, no dia 2 de fevereiro, na cidade de Punxsutawney em Pennsylvannia, acontece o Festival da Marmota (Groundhog). Ela hiberna durante todo o inverno, e nesse dia, ela acorda e sai da sua toca pela primeira vez. Há uma lenda que diz, que se a marmota sair e vir a sua sombra, ela volta para a toca e hiberna por mais 6 semanas, num inverno prolongado. Se ela não vê sua sombra, mantendo-se do lado de fora, isso é o sinal de que a primavera vem mais cedo.
Porquê o encanto sobre o Dia da Marmota, se moro no hemisfério Sul, se no Rio de Janeiro a única neve conhecida é do tipo que sai em sprays?
Por causa de um filme chamado aqui no Brasil de O Feitiço do Tempo, (Groundhog Day), com direção de Harold Ramis. Phil Connors (Bill Murray) é um apresentador de TV de metereologia, egocêntrico ao extremo, sem amigos, nem amores. Ele é enviado para Punxsutawney, para uma entrevista chatíssima e insignificante sobre o tal dia da Marmota. Devido a uma nevasca, pernoita na cidade, após um dia em que tudo dá errado. Misteriosamente, Phil passa a acordar todos os dias naquele mesmo dia, sem que mais ninguém, além dele, perceba essa situação.
Sem ser religioso ou professoral, como seria de se esperar de uma comédia americana, o filme fala sobre nossa relação com o tempo. Ele denuncia a existência de pequenas repetições cotidianas, aprisionantes, grilhões invisíveis no dia a dia, tornando-nos prisioneiros do tempo numa escala que é, a princípio, imperceptível e depois mais e mais exasperante.
O protagonista, num lugar estranho, entre estranhos na imensa maioria, vive uma espécie de vácuo e uma ausência de referentes concretos. Esse vácuo existencial é agravado conforme os dias são revividos, à exaustão.
Phil passa por toda uma gama de emoções. De uma atitude de divertimento irritadiço, a um sentimento de onipotência até o desespero total. Finalmente, diante da inevitabilidade da situação, ele aceita de que não pode mudar a realidade externa. Percebe, no entanto, de que pode, sim, mudar seu modo de lidar com esta realidade, modificando suas atitudes. Passa a agir diferentemente, descomprometido com os resultados imediatos de seus atos, não mais tratando o tempo como inimigo, mas como uma contingência inevitável, que passa a usar em seu favor. Dessa maneira, ele se liberta da prisão do sempre e do nunca. Aí, o feitiço se quebra.
A trama questiona, não só a capacidade transformadora do homem em relação à seu destino, como também exprime uma experiência temporal que não é acessível através das palavras. Uma vez, alguém me disse: “O tempo não gosta do que fazemos sem ele”. A urgência imediatista e o pensamento herdado da infância baseado no tudo ou nada nos fazem temer o devir, porque este explicita, cruamente, nossa incapacidade de predizer ou garantir o futuro. Por vezes, esquecemos de lembrar o que reza uma antiga oração judaica: “Bendito é o Deus que muda as horas!”
Já falei muito, pois blogs são para curtas leituras. É que o tempo e nossa relação com ele me fascinam. Quem quiser tricotar sobre o tema, bem vindo seja.
Estados Unidos, 02/02/2004 - A famosa marmota Punxsutawney Phil "viu" sua sombra e anunciou, durante o 118º Dia da Marmota, no estado da Pensilvânia, que haverá mais seis semanas de inverno.
Todos os anos, no dia 2 de fevereiro, na cidade de Punxsutawney em Pennsylvannia, acontece o Festival da Marmota (Groundhog). Ela hiberna durante todo o inverno, e nesse dia, ela acorda e sai da sua toca pela primeira vez. Há uma lenda que diz, que se a marmota sair e vir a sua sombra, ela volta para a toca e hiberna por mais 6 semanas, num inverno prolongado. Se ela não vê sua sombra, mantendo-se do lado de fora, isso é o sinal de que a primavera vem mais cedo.
Porquê o encanto sobre o Dia da Marmota, se moro no hemisfério Sul, se no Rio de Janeiro a única neve conhecida é do tipo que sai em sprays?
Por causa de um filme chamado aqui no Brasil de O Feitiço do Tempo, (Groundhog Day), com direção de Harold Ramis. Phil Connors (Bill Murray) é um apresentador de TV de metereologia, egocêntrico ao extremo, sem amigos, nem amores. Ele é enviado para Punxsutawney, para uma entrevista chatíssima e insignificante sobre o tal dia da Marmota. Devido a uma nevasca, pernoita na cidade, após um dia em que tudo dá errado. Misteriosamente, Phil passa a acordar todos os dias naquele mesmo dia, sem que mais ninguém, além dele, perceba essa situação.
Sem ser religioso ou professoral, como seria de se esperar de uma comédia americana, o filme fala sobre nossa relação com o tempo. Ele denuncia a existência de pequenas repetições cotidianas, aprisionantes, grilhões invisíveis no dia a dia, tornando-nos prisioneiros do tempo numa escala que é, a princípio, imperceptível e depois mais e mais exasperante.
O protagonista, num lugar estranho, entre estranhos na imensa maioria, vive uma espécie de vácuo e uma ausência de referentes concretos. Esse vácuo existencial é agravado conforme os dias são revividos, à exaustão.
Phil passa por toda uma gama de emoções. De uma atitude de divertimento irritadiço, a um sentimento de onipotência até o desespero total. Finalmente, diante da inevitabilidade da situação, ele aceita de que não pode mudar a realidade externa. Percebe, no entanto, de que pode, sim, mudar seu modo de lidar com esta realidade, modificando suas atitudes. Passa a agir diferentemente, descomprometido com os resultados imediatos de seus atos, não mais tratando o tempo como inimigo, mas como uma contingência inevitável, que passa a usar em seu favor. Dessa maneira, ele se liberta da prisão do sempre e do nunca. Aí, o feitiço se quebra.
A trama questiona, não só a capacidade transformadora do homem em relação à seu destino, como também exprime uma experiência temporal que não é acessível através das palavras. Uma vez, alguém me disse: “O tempo não gosta do que fazemos sem ele”. A urgência imediatista e o pensamento herdado da infância baseado no tudo ou nada nos fazem temer o devir, porque este explicita, cruamente, nossa incapacidade de predizer ou garantir o futuro. Por vezes, esquecemos de lembrar o que reza uma antiga oração judaica: “Bendito é o Deus que muda as horas!”
Já falei muito, pois blogs são para curtas leituras. É que o tempo e nossa relação com ele me fascinam. Quem quiser tricotar sobre o tema, bem vindo seja.
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