Clube das Almas Inquietas

Bem vindo todo aquele que quer mais do que o cotidiano pode oferecer

quinta-feira, março 04, 2004

A leitura dos jornais e revistas tem me deixado de estômago embrulhado.
Político virou sinônimo de ladrão, no Brasil. E o que é pior, estamos quase achando isso normal. Chegamos a ponto de usar frases como “ele rouba, mas faz” como argumento para votar em alguém.
Não nos surpreendemos com os Waldomiros da vida, o secretário de segurança do Rio, sr Garotinho que anuncia, com orgulho que apenas 84 pessoas morreram neste Carnaval (!!!!!!!!!!!!!!!!).
Fotos de traficantes são estampadas nas capas das principais revistas do país, dando-lhes notoriedade e veleidades de herói. Manchetes nos jornais apontam a impunidade e a falência do sistema penitenciário brasileiro.
Defrontamo-nos com o fato de que as condições mais básicas de convivência social estão profundamente ameaçadas e nos sentimos paralisados, como se nada pudesse deter esse processo.
Os gregos têm uma palavra – éthos - que significa morada, maneira de ser. Ética tem sua origem neste termo. Entendo ética como o modo como lidamos com aquele pedaço de mundo que é a nossa morada, o nosso lugar nele. A ética fala da atitude que temos em relação a esse lugar. Fala sobre os princípios e as regras que usamos para poder viver e conviver com outros homens.
Ética é diferente de moral. A moral, em geral, está ligada um grupo social ou a uma época ou a uma localidade. A moral pode ser muito específica, variando de cultura para cultura ou dependendo de uma crença religiosa. É algo que é apresentado pelo meio vigente, construído de fora para dentro.
Já a ética é algo que é criado de dentro para fora, uma construção subjetiva, construída a partir dos relacionamentos estabelecidos e que busca permitir o convívio entre as pessoas, por mais diferentes que elas sejam. Ética é uma atitude, não uma idéia ou conceito e pode ser traduzida de uma forma mais simples por: Responsabilidade pelo outro.
A leitura dos jornais mostra uma sociedade cuja organização promove, a cada dia, exemplos gritantes do que NÃO é ético. Desigualdade não é ética. O enriquecimento ilícito e a impunidade não são éticos, assim como promessas políticas eleitoreiras não o são.
Habitar em condições infra-humanas, ser incapaz de oferecer uma contribuição ao meio em que vive, não ter um trabalho que seja considerado digno, nada disso é ético.
A falta de ética produz a humilhação e a negação do direito de existir. Ela impede o reconhecimento pelo outro, que é uma necessidade fundamental de qualquer pessoa - ser reconhecida em sua singularidade – isto é, o direito de alguém poder dizer: Sou o que sou e como sou e tenho valor sendo assim.
Aqueles que mais sofrem com a falta de ética são os que menos podem reagir a ela - o pobre, o doente, a criança, o velho, aquele que possui uma dificuldade especial ou que, em algo, é diferente do usual e foge à norma convencionada. Eles pedem, necessitam que sua presença/existência seja reconhecida e que suas necessidades sejam legitimadas.
Não somos espectadores da vida. Não podemos acreditar que nada pode ser feito, porque há tantos que são desonestos ou anti-éticos. Somos todos co-responsáveis.

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