Clube das Almas Inquietas

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sábado, janeiro 16, 2010

Sim, eu vivo.

Você já passou por um período de grande inquietação?
Um estado de não-sei-o-que-é-mas-que-não-dá-sossego?
Já aconteceu  deste estado ser intensificado quando o mundo lá fora passa por grandes abalos?
Desde o final do ano passado, tenho testemunhado catástrofes.
Tenho sido testemunha de tragédias envolvendo parentes e amigos. Mais recentemente, tragédias ambientais. Hoje, o terremoto no Haiti. Ontem,  as chuvas em Angra, no interior de São Paulo, as enchentes em todo o Brasil.
As fotos escolhidas para estampar a primeira página são sempre de pessoas em meio a escombros. Na maioria da vezes, crianças. Seres humanos sós em sua dor, feridos, desamparados. Os olhos transbordam choque e apelo e nos assombram. Ficamos preenchidos de horror, medo e recusa. Não queremos nos defrontar com a clara expressão do maior terror humano - o colapso, sem aviso e sem clemência, que simplesmente devasta o que quer que esteja à volta.  Acontece o inominável.

O colapso aponta o que sempre esteve presente, mas que para poder viver simplesmente ignoramos. Somos muito frágeis, muito pouco potentes, muito vulneráveis, nada oniscientes. O colapso declara que o que está fora e além de nós é exatamente isto - além de nós.
O colapso nos assombra e nos lembra de que viver é estar em meio de forças que podem ser descontroláveis, inclementes e devastadoras e que estas forças existem dentro e fora de nosso corpo. Quem nunca escutou dentro de si o tremor sorrateiro que se espalha nas entranhas, os ruídos surdos do choque entre impulsos que nos faz subitamente conscientes de cada movimento fisiológico na antecipação do perigo iminente? Também somos como sítios geológicos instáveis, com forças em permanente oposição, numa acomodação sempre precária.
Desde o fim do ano a natureza tem mostrado sua fúria, quer como capricho de sua própria essência, quer como resposta magoada aos maus tratos recebidos. Milhares de vidas foram ceifadas.
 Antes do fim do ano, próximas a mim, outras vidas já haviam sido ceifadas. Estas vidas tinham nome, cheiro, lembranças, afetos e presença. Também se foram em tragédias sem sentido, cedo demais.
Diante de tantas mortes, dor e medo. Também alívio. Estou viva.  Abalada, cônscia demais da mortalidade para me sentir confortável, mas viva.
 Não houve o grande abalo. Não para mim nem para os que mais amo. As placas tectônicas da alma se aquietam, por enquanto.
O que faço com a vida que me foi poupada? O que ser e o que fazer para reconhecer e para usufruir, na justa medida, o milagre da sobrevivência?

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1 Comments:

Blogger pedro said...

Gostei de seu texto

Não te conheço e entrei no seu blog (não) por acaso.

Ler "Awakening to a new Earth" do Eckhart Tolle pode ser bom.. não tenha preconceitos contra o livro.. só leia...(tem traduzido caso nao leia inglês)

Ler Walden de Henri David Thoreau pode ser mto bom tb (não tem traduzido até onde sei)

e ler Tao te King pode ser otimo tb...
ler todos eles com calma e devagar... com presença...

2:57 PM  

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