Clube das Almas Inquietas

Bem vindo todo aquele que quer mais do que o cotidiano pode oferecer

segunda-feira, abril 23, 2007

Em boa companhia

No último sábado, o Caderno Prosa e Verso de O Globo apresentou uma entrevista da escritora americana Paula Fox. Na entrevista, Paula declara que “tornar-se consciente de si mesmo é a pior coisa que pode acontecer a um escritor.” “Por um tempo”, confessa, “eu me pus na jaula de meus admiradores”.
Atraída pela chamada da entrevista, interessei-me e a li com atenção. Cito abaixo o comentário final da escritora ao descrever sua experiência após ter sido aclamada pela crítica e pelos leitores:
“Foi chocante. Fiquei muito assustada, me tornei muito consciente de mim mesma, e isso é o que é proibido a um escritor. Virginia Woolf disse muito bem quando falou: “percebi que estava em apuros quando comecei a procurar meu nome no jornal”. Eu senti que precisava voltar ao isolamento e à tranqüilidade. As vozes tinham de morrer”.
No post anterior, havia comentado sobre insights e a entrevista, oportuna, ajudou-me a ter uma melhor compreensão acerca da minha total irregularidade na escrita e na dificuldade monstruosa em buscar o que tanto desejo e é, agora, evidente, temida na mesma proporção – ser escritora.
Sou consciente demais de mim mesma, receosa demais em me expor e me lançar, dividida entre a necessidade de fazer uma conexão entre o mundo de dentro e o de fora e o desejo de não me expor, paradoxo que me faz produzir textos em conta-gotas, vinhetas que acabam não se desenvolvendo em projetos de mais vulto. É difícil expressar a frustração a que isso conduz, equivalente a dirigir um automóvel com o freio de mão puxado.
Sempre escrevi para mim, mostrando a poucos o que produzia. O acaso e a iniciativa de uma pessoa próxima, na época, levou-me ao mundo dos blogs em seus primórdios. As dificuldades pessoais dos envolvidos no blog original levaram ao encerramento deste.
Um outro blog surgiu, este – Almas Inquietas – um lugar de descoberta e maravilhamento no mundo da escrita. A possibilidade de escrever e ser lida, protegida pelo anonimato e o encontro com páginas fantásticas e escritores maravilhosos, do lado de cá e do lado de lá do Atlântico, foi uma experiência maravilhosa.
Eu adorava. Divertia-me e percebia que, quanto mais escrevia, melhor fluíam as palavras. Os comentários recebidos, os elogios eram puro deleite. Ver-se reconhecida por pessoas desconhecidas, mas que compartilhavam das vivências que eu relatava, era fantástico.
Bem, o blog tinha um bendito de um contador de acessos à página que dizia não só o número de visitantes, mas sua origem. Quanto mais o contador girava, mais empolgada eu ficava. Visitava a página várias vezes, desejando aumentar, a cada dia, o número de visitantes a ela. Mesmo cansada do trabalho diário, escrevia um material, acessava os blogs linkados, deixando comentários aqui e ali numa política de reciprocidade. Até aí, nada demais.
A encrenca começou quando, mais do que o prazer de escrever, o interesse em ser lida começou a prevalecer.
Guardadas as devidas proporções, é claro, Paula Fox e Virginia Woolf relatavam o que havia sentido e o que se passara comigo, a sensação de entrar numa jaula, como descreveu Paula. Francamente, foi um alívio ler o que elas relataram. Se é maluquice sentir-se assim, ou narcisismo demais, fazer o quê? Não escolhemos o que sentir e, além do mais, descobri estar em excelente companhia.
Sentia-me demasiadamente exposta, querendo ser vista, mas sem querer me mostrar. Ou seguia com a construção de um personagem para ficar em exposição ou ia para o fundo da toca. Para quem já tem como enigma na vida a busca de ser quem é, a criação de uma persona a mais, naquela altura do campeonato, foi too much.
Voltei a ser totalmente desconhecida, ou melhor, aquela que escrevia, silenciou.
Não de vez, felizmente. Ensaio agora uma nova tentativa.
Sem marcadores, sem visitas anunciadas nos blogs dos amigos, tentando ter mais intimidade comigo, lendo, apreciando o trabalho de tanta gente boa.
Escrevendo de novo.

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1 Comments:

Blogger Leila Silva said...

Nina, nem sei como te dizer o quanto me identifiquei com esse teu texto.
Excelente reflexão e muito bem exposto o pensamento.
Desculpe o outro dia no msn, eu estava em apuros aqui no trabalho (escola).
bjs

12:24 PM  

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