Tenho a sensação de que quando caminho e largo a pensar, é como se me enovelasse dentro de mim e me olhasse para dentro, visitando-me.
Encontro pensamentos, muitos, distintos e divergentes, flutuando em mim.
Alguns são mais pesados, espessos, me tomando por inteira, fazendo mais lento o caminhar. Outros, meros fiapos, fragmentos, tornam meu passo leve, ligando-me, de leve, ao ar. Outros ainda, me deixam na dúvida em como foram parar ali.
Eles mudam caleidoscópicamente, seguindo uma lógica que desconheço (e que abri mão de procurar) e mesmo tão diferentes, parecem ser unidos frouxamente, como uma bola de barbantes usados.
Visito a bola na memória, recordando as muitas cores, texturas e diâmetros.
As pessoas costumavam guardar, ao longo dos dias, pedaços de fios, barbantes e cordões num novelo comum, preservada memória do que fora vivido, reserva garantida de ligações.
Descubro recolher nessa visita dentro de mim, os fragmentos de vida que costuram meu existir e, juntando isso tudo na bola de barbantes, faz bastante sentido que sejamos tão distintos assim.