Clube das Almas Inquietas

Bem vindo todo aquele que quer mais do que o cotidiano pode oferecer

terça-feira, setembro 09, 2003

FICA A MEU LADO

Fica ao meu lado, amigo
Sem pensar ou recordar.
Quero a tua voz
Cálida que abraça e
soa como num sonho
Soa a murmúrio do mar.
Toca na minha mão, amigo.
Apenas toca, devagar.
Fala-me a linguagem simples
Do gesto amoroso
Doce, a me embalar.
Conversa comigo, amigo.
Do dia a dia e da correria.
E de perder e de ganhar.
Deixa-me perceber, amigo
No espaço que cobre
A intuição do teu olhar,
Que entendias o que eu sentia
Mas não sabia expressar.

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ÍTACA - KONSTANTINOS KAVAFIS

Se partires um dia rumo a Itaca,
faz votos de que o caminho seja longo,
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem Lestrigões nem os Cíclopes
nem o colérico Poseidon te intimidem;
eles no teu caminho jamais encontrarás
se altivo for teu pensamento, se sutil
emoção teu corpo e teu espírito tocar.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o bravio Poseidon hás de ver,
se tu mesmo não os levares dentro da alma,
se tua alma não os puser diante de ti.

Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
nas quais, com que prazer, com que alegria,
tu hás de entrar pela primeira vez um porto
para correr as lojas dos fenícios
e belas mercâncias adquirir:
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,
e perfumes sensuais de toda espécie,
quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrina
para aprender, para aprender dos doutos.

Tem todo o tempo Itaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
mas não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
e fundeares na ilha velho enfim,
rico de quanto ganhaste no caminho,
sem esperar riquezas que Itaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Itaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.

Itaca não te iludiu, se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência,
e agora sabes o que significam Ítacas.

(tradução: José Paulo Paes.
Homero, na “Odisséia”, narra a Viagem de Ulysses de volta a

Ítaca, sua ilha natal)

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segunda-feira, setembro 08, 2003

CONVITE ou A ORDEM DOS RABISCOS EM DESORDEM

INFÂNCIA
Quando pequena
Meu quintal era enorme.
Tinha rios, castelos e florestas,
Trilhas sinuosas e duendes e dragões.
E eu seguia aquelas trilhas,
Catando na terra mágicas sementes
Que marcariam meu caminho de volta à segurança.
Meu quintal não existe mais,
E eu cresci.
E surpresa, me dei conta
que ainda busco, hoje, os sinais e a magia
Daquelas trilhas que eu antes percorria.


Talvez este texto devesse ser o primeiro post do Blog. Só que sou impulsiva e ele não foi meu primeiro impulso. Fazer o quê?
Provavelmente um esforço maior para me planejar. Vamos ver se consigo.
Brinco muito com as almas e brincava, com os próximos a mim, acerca dos diferentes tipos de alma.
Gente chata, de mal com a vida, sem humor, cruel, mesquinha, a esses eu chamo de almas atormentadas.
Uma variação, dependendo do maior ou menos compromisso com a infelicidade, é o grupo das almas sem luz.
A essas, só me resta uma prece, para iluminar.
Há almas aflitas, permanentemente ou de forma temporária. Nestas, a dor e o cansaço se localizam é na alma além do corpo.
Há as almas inquietas, aquelas que cismam que existe algo além do prosaico, do observável, do lógico e do racional.
Uma alma inquieta sabe que é uma alma inquieta. Cada um vai ter sua definição, dependendo do dia ou do momento. Querer definições definitivas é impossível para uma alma inquieta, nossas definições são sempre circunstanciais, mas, brincando com a infância, talvez possa dizer que uma alma inquieta ainda escuta o barulho das ondas batendo nas praias da terra do Nunca ou cisma que viu uma sombra pequenina e fugidia nos jardins onde passeia.
Então é isso. Esse blog pretende ser um passeio por onde as almas inquietas encontram lugar:

"Os seres pequeninos e fugidios se esquecem de fugir quando o poeta os chama pelo verdadeiro nome"
( Bachelard)


Tomara que possa encontrar mais gente dessa tribo e fazer daqui um play ground virtual.


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VIDA


Do meu braço sai um lápis
Que traça um estreito risco
Entre ser feliz e infeliz.
Tortuoso caminho de
Desatinos ou destinos,
Não sei.
Tropeço e resvalo
nas bordas da vida.
Fantasmas me espreitam.
Riem, por sobre o muro
De meu sono, ao ver
Meu esforço em não cair.
Vertigem e medo,
Susto e prazer.
Agarro-me em teus olhos
Atraente abismo de viver

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Não
Não me venhas com regras.
Nada tenho contra elas
Simplesmente
Não me cabem.

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