Clube das Almas Inquietas

Bem vindo todo aquele que quer mais do que o cotidiano pode oferecer

domingo, abril 26, 2009

A Estrutura da Maldade


Bollas (1992) em a Estrutura da Maldade escreve sobre os “serial killers”, considerando que estes possuiriam um “killed self”, um self morto, de uma criança que foi repetidamente abusada ou severamente negligenciada pelos pais, que vai “vivendo”, procurando transformar outros selves em selves mortos também, estabelecendo um companheirismo na morte. Ele fala sobre diversas situações onde o mal é experienciado pela pessoa, citando situações de abuso.
Ele fala que a estrutura da maldade se baseia na violação da fé da criança na bondade de seus pais quando o objeto bom no qual ela confiava subitamente muda sua natureza e traí essa confiança.
"Por mais que existam fantasias de crueldade parental, a criança, em última instância, sabe a diferença entre seus sonhos, fantasias e devaneios do momento em que a figura parental é verdadeiramente cruel. "( p.29-30)
Bollas descreve o encontro com a maldade como um ciclo de choque, como uma espécie de morte, a saída do self no corpo, a sensação de vazio e o retorno ao corpo. A estrutura da maldade, como ele chama o fenômeno que descreve em pormenores, é “a recordação que cada pessoa tem de uma traição importante sofrida no meio ambiente, de outra forma confiável, da relação mãe-filho ou pai –filho. Todos vivenciamos este trauma e todos, em conseqüência, conhecemos sua estrutura”.

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sexta-feira, abril 17, 2009

Durma-se com um barulho destes...

Uma parte de mim gosta demais do anonimato quase que total que o site se encontra. Exceto pelo João Paulo,que se agradou de meu rinoceronte apaixonado, não há mais comentários aqui. Isto quase me liberta.
Caprichando na incoerência, recomendei ao João que ao publicar uma forma reduzida do post rinocerontico que não deixasse de assinalar o link daqui. Uai, não estava gostando do anonimato?
Pelo jeito, ainda vou levar mais uns 50 anos de análise para elucidar ou, ao menos, clarear minha relação com o escrever.

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quarta-feira, abril 15, 2009

Tocar o futuro


A única forma de tocar o futuro é quando eu desejo.

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segunda-feira, abril 13, 2009

Shakespeare e a população de rua do Rio de Janeiro



Em 1611, Shakespeare escreve sua última peça- A Tempestade.
Próspero, duque de Milão, é banido de seu reino por seu irmão e opositores, que o atraiçoam e o colocam num barco sem remos ou rumo.
Deixado a deriva, para morrer ‘a mingua, Próspero e sua filha pequena sobrevivem, chegando a uma ilha isolada e totalmente inabitada, distante de tudo, povoada apenas por espíritos e é apenas com eles que passam a conviver daí em diante.Próspero dedica-se, por muitos anos, a controlar e manter sob suas ordens estes espíritos, banido num mundo desumanizado, exceção feita à sua filha, a pequena Miranda, que trata de educar com esmero. Dentre os espíritos encontram-se Ariel, que representa o que há de melhor na natureza humana e também Caliban, o espírito bruto e incapaz de aprender e experienciar, voraz, ligado apenas a seus próprios instintos descontrolados.
Muitos anos depois, um naufrágio traz à ilha seus opositores e a vingança se torna possível. Miranda encontra os náufragos e, sem contato prévio com outros seres humanos, maravilha-se com este “admirável mundo novo” que se descortina diante dela, apaixonando-se por um homem do grupo.Dentre os náufragos também está Gonzalo, homem justo e bondoso, que dera ao pai e à filha, às escondidas, provisões, roupas, livros, enfim, objetos que lhes permitiram sobreviver na ilha.
Através do olhar de Gonzalo e de Miranda, Próspero reencontra sua humanidade, abdicando da magia e de viver na ilha solitária, liberta os espíritos, e decide retornar ao convívio dos homens.
Eis o que diz Próspero ao tomar essa decisão:
"Meus olhos, só pela visão dos seus,
Pingam de amor. O encanto se dissolve;
E como a aurora surpreende a noite
Derretendo o negror, os seus sentidos
Renascem e começam a banir
A névoa de ignorância que ora encobre
A razão clara
. "
(W.S.- A Tempestade)
Gostaria de acreditar que ainda hoje, até mesmo os banidos, os atraiçoados e destituídos de sua humanidade podem ser resgatados desta condição, através de um encontro humano. Gostaria que a Miranda em mim não se desiludisse de vez.
Quando olho para os rostos ressentidos e, acima de tudo, para o olhar sem luz e sem vida e com ódio daqueles que me apontam sua miséria cotidianamente na ruas do Rio de Janeiro eu temo que a noite se abata sobre meus sentidos e eu não mais consiga ver, sobrepujando o medo, que ali está meu irmão.
Eu temo preferir manter-me numa ilha isolada, sob controle, abdicando do convívio do mundo em vez de retornar a ele e combater, do modo que posso, a usurpação, a desonestidade e a corrupção.

Imagem:Rui de Oliveira

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