Meu caro amigo
Caro amigo,
Você me pede novos textos. Não os tenho. Algumas frases, esboços, nada mais. Tenho buscado novos modos, uma nova maneira de viver a mesma vida que me coube ao nascer. No entanto, para que haja lugar para o novo preciso despedir-me do velho, reconhecer sua morte pela perda de lugar e sentido,entender que partes de mim deixam também de existir e, ainda assim, compreender que não morro com elas.
Um exemplo disto é contar-lhe que há pouco dias tive notícias de alguém do passado.Eu certamente poderia lhe dizer: Ah, como foi linda aquela história!
Mas de que história eu falo? Da que vivi ou da que sonhei viver?
A história sonhada exige vestir-me de princesa, engalanar príncipes, criar ogros e bruxas que justificassem as dores e incompreensões.
Era eu princesa, era ele príncipe, havia ogros e bruxas?
Não. A história vivida reconhece que os silêncios, as omissões, o desentendimento, a angústia das fraquezas e das impossibilidades circunstanciais não vinham dos ogros e das bruxas, mas do príncipe e da princesa que não éramos.
Não mais vida sonhada, ilusoriamente dourada pelo que poderia ter sido. Vida vivida, eu quero.
Histórias, personagens, ficção, tem ficado um pouco de lado até encontrar-lhes o lugar devido.
Complicado?
Complicado tem sido sentir tudo isso. Complicado o esforço em reescrever-me, reinventar-me quando o medo da dor da perda me faz quase desejar nada sentir.Complicado é perceber que nada sentir, renunciar ao sonho, em vez de alívio, traz vazio.
Sou capaz de acreditar que é complicado, mas possível mudar.
Espero poder ser capaz de viver a vida com lugar para o sonho, sem viver nele.
Poder imaginar personagens sem sê-los, tecer narrativas sem me enredar nelas, escrever meus contos e sempre, sempre a poesia.
Acabei de perceber que os contos são para serem escritos, não vividos.
Uma descoberta interessante, não acha?
Um abraço
Você me pede novos textos. Não os tenho. Algumas frases, esboços, nada mais. Tenho buscado novos modos, uma nova maneira de viver a mesma vida que me coube ao nascer. No entanto, para que haja lugar para o novo preciso despedir-me do velho, reconhecer sua morte pela perda de lugar e sentido,entender que partes de mim deixam também de existir e, ainda assim, compreender que não morro com elas.
Um exemplo disto é contar-lhe que há pouco dias tive notícias de alguém do passado.Eu certamente poderia lhe dizer: Ah, como foi linda aquela história!
Mas de que história eu falo? Da que vivi ou da que sonhei viver?
A história sonhada exige vestir-me de princesa, engalanar príncipes, criar ogros e bruxas que justificassem as dores e incompreensões.
Era eu princesa, era ele príncipe, havia ogros e bruxas?
Não. A história vivida reconhece que os silêncios, as omissões, o desentendimento, a angústia das fraquezas e das impossibilidades circunstanciais não vinham dos ogros e das bruxas, mas do príncipe e da princesa que não éramos.
Não mais vida sonhada, ilusoriamente dourada pelo que poderia ter sido. Vida vivida, eu quero.
Histórias, personagens, ficção, tem ficado um pouco de lado até encontrar-lhes o lugar devido.
Complicado?
Complicado tem sido sentir tudo isso. Complicado o esforço em reescrever-me, reinventar-me quando o medo da dor da perda me faz quase desejar nada sentir.Complicado é perceber que nada sentir, renunciar ao sonho, em vez de alívio, traz vazio.
Sou capaz de acreditar que é complicado, mas possível mudar.
Espero poder ser capaz de viver a vida com lugar para o sonho, sem viver nele.
Poder imaginar personagens sem sê-los, tecer narrativas sem me enredar nelas, escrever meus contos e sempre, sempre a poesia.
Acabei de perceber que os contos são para serem escritos, não vividos.
Uma descoberta interessante, não acha?
Um abraço