Clube das Almas Inquietas

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quinta-feira, março 26, 2009

4'33"

“Nenhum som teme o silêncio que o extingue, e nenhum silêncio existe que não esteja grávido de sons”. John Cage

Quem é John Cage? O que faz?
O que mais John teria a dizer?
O Google, parceiro inestimável, gerou um número imenso de referências acerca do compositor (minha primeira informação) que, paradoxalmente, tornou-se consagrado mais por seus trabalhos acerca do silêncio do que pela música (no sentido formal) que tivesse criado. O texto de Ricardo Bittencourt informa:
Inicialmente um compositor de música erudita, Cage logo se entediou com as estruturas clássicas e passou a compor trabalhos mais curiosos.
O mais conhecido deles é uma peça para piano intitulada 4'33" (lê-se quatro minutos e 33 segundos). Músicas tradicionais possuem partituras que intercalam notas, de diferentes durações, com pausas. Por outro lado, 4'33" é uma música que não possui nenhuma nota, sendo composta inteiramente por pausas!
Na primeira apresentação pública dessa obra, o pianista convidado para interpretar a peça entrou no palco, abriu a tampa do piano, e ficou parado, interrompendo o silêncio ocasionalmente, apenas para mudar a página da partitura (afinal, ele estava acompanhando as pausas). Ocasionalmente, ele fechava e abria novamente a tampa do piano, para indicar um novo movimento da música.
O público,inicialmente, ficou quieto, tentou entender o que estava acontecendo. Após um tempo, começaram a surgir os cochichos, as conversas, e então os protestos daqueles que se sentiam lesados por terem pago para não ouvir nada!
O nome da música, 4'33", foi o tempo máximo que o público conseguiu ouvir o silêncio sem reclamar. Mais tarde, o autor explicaria que 4'33" não é uma música composta apenas de silêncio. A música, na verdade, era formada pelos sons ambientes dentro do teatro. Ou seja, 4'33" é uma música única, pois é diferente toda vez que é apresentada; e atinge o atual ideal de interatividade, onde o próprio público faz os barulhos de que ela é formada.”

Passado um certo desconcerto momentâneo, provocado pela perspectiva totalmente original, me apaixonei irremediavelmente por John Cage. Os pensamentos se atropelando, vi-me formulando frases e idéias que tanto podem vir a germinar num trabalho como podem fenecer na fugacidade do impulso não realizado.
Cage buscou por algo mais do que o meramente estabelecido. Ele não se deteve diante do silêncio, nem disse a si mesmo: - Preciso fazer sons e apenas sons, este é meu ofício.
Não. John Cage tomou a ausência de som, de notas, de formas pré-determinadas de expressão auditiva, não como uma proibição ou inexistência de música. Assim como um psicanalista, que não se intimida ou se recusa a acolher a ausência de sons, Cage tomou o silêncio com um convite - um convite para que aquilo que nossos sentidos não recebem ou percebem com ausentes, não sejam recusados a priori ou aprisionados a uma única perspectiva. Viu no silêncio um gerador de sons. Ele nos fez recordar que a atividade criativa não pode estar sujeita à normatização de formas determinadas de experiência. É necessário reinventar-se, sempre.

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