Clube das Almas Inquietas

Bem vindo todo aquele que quer mais do que o cotidiano pode oferecer

terça-feira, abril 06, 2010

Que estranho dia para se ter alegria

A cidade embaixo d´água. Moro perto de Atlântida, não perto da Atlântica, ai.
Não consegui trabalhar. Desde cedo o celular tocando:
“Você já viu na TV? A cidade está embaixo d´água, não vou poder ir à sessão”.
“Oi, minha mãe falou que hoje eu não saio de casa.”
“Já ia telefonar, hoje não tem sessão, né?”

Confirmado o cancelamento integral de meu dia de trabalho mais ocupado na semana, rendo-me às evidências: O Rio de Janeiro está submerso.
Arrisco o mercado na esquina. Vazio de clientes e funcionários, o mercado é calmo, tranqüilo. Compro o necessário e o supérfluo em medidas equivalentes.
Ângela, a fiel secretária, me pergunta sobre o almoço, que escolho baseada na privação sistemática de comidinhas feitas na hora. Bifinhos de carne moída feitos em casa, cogumelos frescos salteados (um dos tais supérfluos adquirido no impulso), purê de batatas e, alegria das alegrias, feijão fresquinho com bastante paio e lingüiça.
Equilibro a culpa com uma grande salada de folhas verdes, que serão comidas sem tempero e nem azeite, penitência que irá anistiar o feijão preto bem quentinho tomado na xícara.
As filhas em casa, liberadas do estudo e trabalho.
Calamidade tem suas vantagens quando estamos em segurança.
A filha mais velha convida à transgressão: Hoje não trabalho, vamos tomar vinho no almoço?
Porque não?
Procuro o melhor tinto. Apenas nós três, em plena terça feira, juntas no almoço mais caseiro do universo.
Garrafa aberta, o sabor é divino. A companhia também e o almoço será, com certeza.
Um brinde de gratidão a este estranho dia para se ter alegria.

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segunda-feira, abril 05, 2010

A noite passada eu sonhei com você

"A noite passada
Você veio me ver
A noite passada
Eu sonhei com você "
(Lua- Paralamas do Sucesso)



Sei que sonhar é uma conversa que tenho comigo mesma, mas sei também que há certos sonhos em que converso com aqueles que não posso alcançar.
Esta noite sonhei com alguém a quem quero muito bem, mas que, por um motivo ou outro, não nos foi possível conviver e manter o nosso bem querer de perto.
Sonhei com a conversa que nunca chegamos a ter, com o resgate que não aconteceu, com o olho no olho que não existiu.
Sonhei com  a brancura do edredom, com as palavras ditas, os afagos trocados.
Sonhei com o que deveria ter acontecido:  a doçura da compreensão do outro, algo muito maior e melhor que o perdão no sentido comum do termo.
Não sei se este é o verdadeiro perdão, se é que há verdadeiro em algum sentido totalmente abrangente. Perdão, para mim, agora passa a ser próximo de compreender. Compreender a mim e ao outro, com todo o peso das impossibilidades pessoais e  toda a carga de responsabilidade pelas escolhas feitas.
O dia corre e  permanece viva  a lembrança da noite passada.
Para mantê-la mais  ainda, perpetuo sua lembrança neste blog.


No justo momento que escrevo aqui percebo algo novo:
Não foi ele quem veio me ver. Eu é que fui ao seu encontro, em meu sonho.
É bom do mesmo jeito.

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