Clube das Almas Inquietas

Bem vindo todo aquele que quer mais do que o cotidiano pode oferecer

quarta-feira, dezembro 30, 2009

Tecendo o amanhã

Alvíssaras! Eu e a literatura nos reaproximamos. Sem ela, vi-me mais pobre e mais desencantada. Fez muita falta, a danada.

Li estes dias o poema que repasso a vocês.
Ele descreve bem a importância da famíla e do amigos para que eu pudesse voltar a tecer manhãs e amanhãs.
Feliz Ano Novo.

Beijos
PS- Leila, obrigada pela apresentação ao poema.


Tecendo a Manhã

João Cabral de Melo Neto
"Um galo sozinho não tece a manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro: de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã, desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.


E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão".

|

segunda-feira, dezembro 28, 2009

Julie, Julia e eu


Ontem fui assistir ao filme Julie e Julia.
Adoro filme de gente. Gosto da universalidade do singular, da grandeza do pequeno, do corriqueiro, das pequenas vitórias e fracassos que repercutem muito mais internamente do que aos olhos de um observador externo.
Identifiquei-me no ato com as duas protagonistas: Em ambas, o desejo de fazer algo relevante, de ser reconhecida. Também me é familiar a dispersão da protagonista, a dificuldade de levar até o fim uma empreitada, não em tudo, mas naquilo que é um projeto pessoal, um sonho acalentado.
Com a obsessão também. Tenho este problema, qdo encasqueto com alguma coisa, mergulho de cabeça. Se é um autor, preciso ler tudo que escreveu, se é uma tarefa, esta me toma completamente e qualquer coisa que me afaste dela me irrita. Com a internet foi assim, definitivamente sou adepta a adições, perigo, perigo.
Criei este blog para poder escrever, mostrar meus textos, minha poesia. Quando começaram a surgir os comentários, fiquei maravilhada, olha, me lêem, gente até de países distantes,uau! No filme, a surpresa de Julie em ser lida e reconhecida é apresentada de uma forma deliciosa. Eu ficava empolgada daquele jeito, só que mais silenciosa e mais angustiada.
Tornei-me obcecada. Pelo blog e depois pelo marcador de visitas.  E quando me percebi querendo inventar coisas para manter as visitações, vi que tinha arranjado um problemão. A intensidade me esgota e me assusta e eu fujo. Eu tenho medo das paixões. Covarde.
Diferente de Julie e Julia, não levei meu projeto literário até o fim e abandonei o blog e o sonho. Joguei fora a água do banho e o bebê foi junto.
 Volto agora de uma forma diferente, eu espero. Escrevo quando posso, me alegro com algum comentário que é registrado aqui - que bom alguém me leu e deixou um recado, mas não me desespero se nada encontro. O Clube hoje é quase um diário particular que nutre minha necessidade em escrever, mas que é deixado aberto em cima da mesa da sala para quem se interessar.

|

domingo, dezembro 27, 2009

CARIOCA

Dentre os cronistas atuais, meu favorito é João Ximenes Braga. Se eu fosse mais saliente diria “João, adoro você!” A ênfase seria dada por um sonoro beijo na bochecha.
Abstenho-me de adivinhar a reação de João, invocando o santo protetor das tietes a fornecer bom humor ao admirado no momento da homenagem.

João me lembra Almodóvar. Ao mesmo tempo em que descreve com traços finos e precisos as mazelas do comportamento humano, João não se coloca acima de seu criticado e critica como apenas aqueles que amam verdadeiramente a humanidade o podem fazer.

Neste fim de semana, ele fala da presunção carioca com tamanha propriedade que imediatamente mil exemplos me vieram à mente. Se alguém critica um carioca, só pode ser paulista, ou mineiro, ou qualquer outra coisa que não seja o povo escolhido - os abençados nativos da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Só que João, discordo de você, em parte. Aliás, não discordo. Sou mais específica. O tipo narcísico que você descreve tão bem não é qualquer carioca, não! Vale especialmente para aqueles que nascem na Zona Sul, em especial para os nascidos junto ao mar, entre Leme e Leblon.

A bem da verdade, o narcisismo muda de lugar para os nascidos na ZN. Estes carregam para além túmulo uma condição que se transmuta de acidente geográfico para falha constitutiva - suburbanos forever.
Não só nasci na ZN, como nasci e fui criada na Aldeia Campista, minúsculo bairrro localizado no períneo formado pelos bairros da Tijuca e Vila Isabel.
Garota, tornei-me Fluminense graças ao genial Nelson Rodrigues e todas as vezes em que lia sobre meu bairro em sua coluna no jornal, sentia-me vivendo num lugar realmente importante. Eu e a viúva com narinas de defunto partilhavamos o mesmo CEP.
Este orgulho amenizava o complexo de viralata, diagnosticado por Nelson em todo brasileiro frente ao estrangeiro. Sua descoberta, tenho certeza, originou-se da observação aguda do atabalhoamento invejoso e  reverente do tijucano ante a zona sul e do resto da zona norte ante os tijucanos.
 No Rio, querido João, há castas tão demarcadas e difíceis de serem transpostas quanto os mais conservadores grupamentos humanos.
O umbigo carioca  não está cheio de areia como você descreveu. A areia da Zona Sul  é  o umbigo da cidade, centro do belo e do ideal. Quanto mais nuclear, mais inflado e autoreferente. Quanto mais distante do umbigo, menor a valia e maior a viralatice da alma.
Moro hoje em outro períneo, no posto 8. Deve ser cármico morar nas fronteiras.
Híbrida que sou,  eis-me viralata com a areia no umbigo. Carioca.

|

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Natal com Cecília Meireles


Natal na Ilha do Nanja
Cecília Meireles


Na Ilha do Nanja, o Natal continua a ser maravilhoso. Lá ninguém celebra o Natal como o aniversário do Menino Jesus, mas sim como o verdadeiro dia do seu nascimento. Todos os anos o Menino Jesus nasce, naquela data, como nascem no horizonte, todos os dias e todas as noites, o sol e a lua e as estrelas e os planetas. Na Ilha do Nanja, as pessoas levam o ano inteiro esperando pela chegada do Natal. Sofrem doenças, necessidades, desgostos como se andassem sob uma chuva de flores, porque o Natal chega: e, com ele, a esperança, o consolo, a certeza do Bem, da Justiça, do Amor. Na Ilha do Nanja, as pessoas acreditam nessas palavras que antigamente se denominavam "substantivos próprios" e se escreviam com letras maiúsculas. Lá, elas continuam a ser denominadas e escritas assim.
Na Ilha do Nanja, pelo Natal, todos vestem uma roupinha nova — mas uma roupinha barata, pois é gente pobre — apenas pelo decoro de participar de uma festa que eles acham ser a maior da humanidade. Além da roupinha nova, melhoram um pouco a janta, porque nós, humanos, quase sempre associamos à alegria da alma um certo bem-estar físico, geralmente representado por um pouco de doce e um pouco de vinho. Tudo, porém, moderadamente, pois essa gente da Ilha do Nanja é muito sóbria.
Durante o Natal, na Ilha do Nanja, ninguém ofende o seu vizinho — antes, todos se saúdam com grande cortesia, e uns dizem e outros respondem no mesmo tom celestial: "Boas Festas! Boas Festas!"
E ninguém, pede contribuições especiais, nem abonos nem presentes — mesmo porque se isso acontecesse, Jesus não nasceria. Como podia Jesus nascer num clima de tal sofreguidão? Ninguém pede nada. Mas todos dão qualquer coisa, uns mais, outros menos, porque todos se sentem felizes, e a felicidade não é pedir nem receber: a felicidade é dar. Pode-se dar uma flor, um pintinho, um caramujo, um peixe — trata-se de uma ilha, com praias e pescadores! — uma cestinha de ovos, um queijo, um pote de mel... É como se a Ilha toda fosse um presepe. Há mesmo quem dê um carneirinho, um pombo, um verso! Foi lá que me ofereceram, certa vez, um raio de sol!
Na Ilha de Nanja, passa-se o ano inteiro com o coração repleto das alegrias do Natal. Essas alegrias só esmorecem um pouco pela Semana Santa, quando de repente se fica em dúvida sobre a vitória das Trevas e o fim de Deus. Mas logo rompe a Aleluia, vê-se a luz gloriosa do Céu brilhar de novo, e todos voltam para o seu trabalho a cantar, ainda com lágrimas nos olhos.
Na Ilha do Nanja é assim. Arvores de Natal não existem por lá. As crianças brincam com. pedrinhas, areia, formigas: não sabem que há pistolas, armas nucleares, bombas de 200 megatons. Se soubessem disso, choravam. Lá também ninguém lê histórias em quadrinhos. E tudo é muito mais maravilhoso, em sua ingenuidade. Os mortos vêm cantar com os vivos, nas grandes festas, porque Deus imortaliza, reúne, e faz deste mundo e de todos os outros uma coisa só.
É assim que se pensa na Ilha do Nanja, onde agora se festeja o Natal.

|

sábado, dezembro 19, 2009

SÁBADO




Há um ritual reconfortante nas manhãs de sábado.

Acordo cedo, mas não tão cedo quanto nos dias de trabalho. Todos dormem e dormirão por um bom tempo ainda. A casa é toda minha, deliciosamente silenciosa e povoada. O gato caminha trançando seus passos aos meus e eu reclamo, divertida e blasé, sobre sua obsessão por mim.


Na cozinha, coloco a água para ferver. Enquanto a chaleira não me assobia, troco a água do gato, renovo a comida, ponho a mesa do café, abro a porta da cozinha e recolho o jornal do chão do corredor.


Há dias em que como à mesa. Dias outros, como hoje, a varanda é meu destino. Eu e a bandeja de mosaicos coloridos nos emolduramos de azul luminoso, aconchegadas na folhagem verde do sofá.


Eu, meu café, o jornal e a vista deslumbrante de uma manhã de sol em Ipanema.

|

quarta-feira, dezembro 16, 2009

NÓS E OS SONS


Para o homem comum, o silêncio absoluto é desconhecido. Mesmo antes de nascer, já estamos mergulhados num universo sonoro:
Estão presentes os ruídos corporais maternos, os batimentos do coração da criança e da mãe, vozes e o som abafado do mundo exterior que reverbera no líquido amniótico, tudo isso imprimindo um registro auditivo íntimo e indelével em nosso psiquismo. Talvez por isso é que se as imagens nos convidam ao exterior, os sons nos conduzem à interioridade.

|

domingo, dezembro 13, 2009

Feliz Natal

Não tenho me preocupado com demonstrações concretas de Natal. Não montei árvore, nem presépio nem comprei presentes.
Em compensação, estou tentando viver natalinamente estes últimos meses. Tenho procurado oferecer um olhar mais generoso para o outro. Nem sempre consigo, às vezes não à princípio, às vezes nem depois de algum tempo.Também tento não pedir o que o outro não pode dar, procurando aceitar, se não com alegria, pelo menos com serenidade, o que pode ser ofertado.
As razões? As mais egoístas possíveis: Dói menos e ganho mais.
Feliz Natal para nós.

|

terça-feira, dezembro 08, 2009

Incrível, fantástico, extraordinário!

Chinesa aceita acordo para bater em marido só uma vez por semana
Uma chinesa da província de Chongqing assinou um acordo com o marido que permite que ela o agrida fisicamente no máximo uma vez por semana.
O acordo - assinado perante familiares e testemunhas - foi proposto pelo marido, um homem de 32 anos identificado apenas pelo sobrenome Zhang, porque, segundo ele, era frequentemente agredido pela mulher, Chen, quando discutiam. Chen pratica kung fu desde a infância, e disse ao jornal Chongqing Evening News que "não consegue conter suas mãos" durante uma briga.Ela admitiu ainda que se arrepende cada vez que vê o marido com o olho roxo.


Turista alemão é detido com 44 lagartos na cueca na Nova Zelândia
Um turista alemão foi detido na Nova Zelândia quando tentava deixar o país com 44 exemplares de sete espécies protegidas de lagartos escondidos na cueca, informou a justiça do país da Oceania.

Tudo para comentar o interesse despertado por notícias, se não bizarras, ao menos apresentadas como tal.Talvez o interesse derive de memórias infantis:
O título era de um programa de rádio sobre o qual minha avó falava e do qual tenho uma vaga memória, não sei se pelo relato ou pelo experiência com o mesmo. Vou consultar o Google.( Acabei de ver que o auge do programa foi nos anos 40/50. Como nasci mais para o fim dos anos 50, a memória deve ser dos livros publicados a partir deste.)
Mais tarde, veio o Acredite se quiser...Ripley´s believe it or not, muito famoso nos anos 60.
Muito importante é minha paixão por Nelson Rodrigues, o mestre dos personagem bizarros.
Por fim, a adesão a uma comunidade do Orkut: Anão vestido de palhaço mata 8
PS_As notícias acima sairam quase que lado a lado no site da UOL de hoje 08/12/2009.

|