Parece haver um fio, invisível, que me sustenta e me costura a vida e pelo qual me norteio e sigo, ora me sentindo inteira, centrada, ora desajeitada, aos tropeços, sempre buscando o tal fio, num equilíbrio precário entre o desejo de mudar e a vontade de manter. |
Clube das Almas Inquietas
Bem vindo todo aquele que quer mais do que o cotidiano pode oferecer
domingo, novembro 30, 2003
sábado, novembro 29, 2003
Quando o sonho é real?
Quando ele transforma o real e quebra a barreira entre sonho e realidade e algo de mágico respinga no cotidiano.
Mágica é quando alguma coisa é tão forte dentro de nós que desdenha os limites estritos do possível e faz com que a realidade se curve diante dessa força.
Se vai durar um dia, um instante, se vai ser de utilidade depois, se vamos perder, nada disso importa quando se vive um momento pleno.
Tão perfeito, tão inacreditável que nos transforma em donos do universo, por um minuto, deuses.
Talvez a diferença seja sabermos que é só por um momento. E mesmo assim valer a pena. E mesmo assim abraçar e amar e olhar e guardar e sentir o nó que esse saber traz à garganta e de novo olhar e de novo amar,e de novo doer e de novo querer porque de novo se sente que vale a pena.
Quando ele transforma o real e quebra a barreira entre sonho e realidade e algo de mágico respinga no cotidiano.
Mágica é quando alguma coisa é tão forte dentro de nós que desdenha os limites estritos do possível e faz com que a realidade se curve diante dessa força.
Se vai durar um dia, um instante, se vai ser de utilidade depois, se vamos perder, nada disso importa quando se vive um momento pleno.
Tão perfeito, tão inacreditável que nos transforma em donos do universo, por um minuto, deuses.
Talvez a diferença seja sabermos que é só por um momento. E mesmo assim valer a pena. E mesmo assim abraçar e amar e olhar e guardar e sentir o nó que esse saber traz à garganta e de novo olhar e de novo amar,e de novo doer e de novo querer porque de novo se sente que vale a pena.
HOJE
Hoje é sábado.
Porque hoje é sábado me lembrei do poeta.
Porque hoje é sábado acordo sem hora mas sempre cedo.
Meu relógio interno não lembra dos dias da semana.
Porque hoje é sábado recordo a semana que passou
E descanso.
Porque hoje é sábado caminho sem pressa na trilha,
Bebendo o sol nas águas e nas pedras.
Porque hoje é sábado tiro o tênis,
Arregaço as bainhas, procuro o mar.
Porque hoje é sábado a água me chama
e me repulsa, menos bela de tão perto.
Porque hoje é sábado sou despida do fazer,
Sem hora, ai que bom, dos papéis a cumprir.
Porque hoje é sábado ficam ampliadas,
na liberdade dos sábados,
as migalhas de pão e de vida deixadas na mesa.
Porque hoje é sábado me lembrei do poeta.
Porque hoje é sábado acordo sem hora mas sempre cedo.
Meu relógio interno não lembra dos dias da semana.
Porque hoje é sábado recordo a semana que passou
E descanso.
Porque hoje é sábado caminho sem pressa na trilha,
Bebendo o sol nas águas e nas pedras.
Porque hoje é sábado tiro o tênis,
Arregaço as bainhas, procuro o mar.
Porque hoje é sábado a água me chama
e me repulsa, menos bela de tão perto.
Porque hoje é sábado sou despida do fazer,
Sem hora, ai que bom, dos papéis a cumprir.
Porque hoje é sábado ficam ampliadas,
na liberdade dos sábados,
as migalhas de pão e de vida deixadas na mesa.
AS ESTAÇÕES DO ANO
Rio de Janeiro, numa quente madrugada de novembro.
O verão não chegou oficialmente e já nos enclausuramos no ar-condicionado.
Hoje, pingando de suor na rua, um conhecido comentou:
- Aqui no Rio temos duas estações no ano: Verão e Inferno!
O verão não chegou oficialmente e já nos enclausuramos no ar-condicionado.
Hoje, pingando de suor na rua, um conhecido comentou:
- Aqui no Rio temos duas estações no ano: Verão e Inferno!
sexta-feira, novembro 28, 2003
SEI O QUÊ ?
Não sei se não sei
o que dizer-te
ou se não há
o que dizer-te.
Só sei que não sai.
Se o que sei é
que não sei se há,
O que havia,
por onde estará?
Não quero tampar
o não sei
com falsos saberes.
Não quero usar
o eu sei
com falsos dizeres.
Não sei
se sou capaz
de pegar uma palavra,
não uma
ou qualquer uma,
mas uma
que me contenha
e que te permita
saber de mim
pela sombra
que ela deixar
nos teus saberes.
o que dizer-te
ou se não há
o que dizer-te.
Só sei que não sai.
Se o que sei é
que não sei se há,
O que havia,
por onde estará?
Não quero tampar
o não sei
com falsos saberes.
Não quero usar
o eu sei
com falsos dizeres.
Não sei
se sou capaz
de pegar uma palavra,
não uma
ou qualquer uma,
mas uma
que me contenha
e que te permita
saber de mim
pela sombra
que ela deixar
nos teus saberes.
DIÁLOGO
Ele:
...só se for para diminuir a distância, não esqueça de recordar.
Ela:
Vou me lembrar de não esquecer.
Ela:
Em alguns casos, a ausência só torna mais presente.
Ele:
O que prova a não ausência,
só temporária falta de vista.
Ele:
Ao largo,
não ver o barco a passar
quando se esconde para além
da curva do meu olhar.
Ela:
A distância que torna longe
não é aquela que a vista não alcança,
é aquela que o coração perde de vista.
segunda-feira, novembro 24, 2003
O SEU OLHAR
Arnaldo Antunes
O seu olhar lá fora
O seu olhar no céu
O seu olhar demora
O seu olhar no meu
O seu olhar seu olhar melhora...
Melhora o meu.
Onde a brasa mora
E devora o breu
Como a chuva molha
O que se escondeu
O seu olhar seu olhar melhora...
Melhora o meu.
O seu olhar agora
O seu olhar nasceu
O seu olhar me olha
O seu olhar é seu
O seu olhar seu olhar melhora...
Melhora o meu.
Há pessoas que despertam o pior em nós. Não que elas sejam piores ou melhores, mas é como se o encontro, em vez de integrar, dissociasse. Outras, ao contrário, tem um olhar que, ao olhar, melhora o meu.
Thanks, Arnaldo.
Arnaldo Antunes
O seu olhar lá fora
O seu olhar no céu
O seu olhar demora
O seu olhar no meu
O seu olhar seu olhar melhora...
Melhora o meu.
Onde a brasa mora
E devora o breu
Como a chuva molha
O que se escondeu
O seu olhar seu olhar melhora...
Melhora o meu.
O seu olhar agora
O seu olhar nasceu
O seu olhar me olha
O seu olhar é seu
O seu olhar seu olhar melhora...
Melhora o meu.
Há pessoas que despertam o pior em nós. Não que elas sejam piores ou melhores, mas é como se o encontro, em vez de integrar, dissociasse. Outras, ao contrário, tem um olhar que, ao olhar, melhora o meu.
Thanks, Arnaldo.
CLUBE DAS ALMAS PENADAS
Laisinha me escreveu, estes dias:
Querida Nina, gostaria de sua (e de todos os visitantes) opinião sobre um projeto.
Trata-se do blog "Clube das Almas Penadas".
Será dedicado a todos os que acreditam que existe vida após o casamento.
Um abraço
Laisinha.
Anos atrás havíamos esboçamos um projeto semelhante, o que chamamos de consultoria psico-afetiva, nome chique para Coluna Sentimental, sempre dentro do espírito do escracho e do livre pensar.
Hoje, encantada com a possibilidade de recriar este espaço de humor além da emoção diante da grandiosidade e a benemerência do projeto, declaro minha colaboração entusiástica ao Almas Penadas
Bem vinda aos blogs, Laisinha!
Querida Nina, gostaria de sua (e de todos os visitantes) opinião sobre um projeto.
Trata-se do blog "Clube das Almas Penadas".
Será dedicado a todos os que acreditam que existe vida após o casamento.
Um abraço
Laisinha.
Anos atrás havíamos esboçamos um projeto semelhante, o que chamamos de consultoria psico-afetiva, nome chique para Coluna Sentimental, sempre dentro do espírito do escracho e do livre pensar.
Hoje, encantada com a possibilidade de recriar este espaço de humor além da emoção diante da grandiosidade e a benemerência do projeto, declaro minha colaboração entusiástica ao Almas Penadas
Bem vinda aos blogs, Laisinha!
domingo, novembro 23, 2003
VIRTUAL
Procuro seu nome luminoso
Confiro o mail, busco mensagens.
Presa na trama da rede,
envolta em malha de fios virtuais e ausências reais.
Uma estranha forma de se relacionar
Uma maneira singular do gostar conjugar.
Palavras, reticências, parênteses e símbolos
desafiam a distância e provocam na pele
um arrepio real.
Emoções digitadas, como um toque sutil
Entreabrem lábios, provocam calor
A textura da boca, a maciez de um lábio,
o gosto da pele.
A quentura do corpo, o toque dos sexos,
o perfume do hálito
e uma ânsia de contato que lateja,
carente de tato, olfato e visão.
O poder do sonho, a atração da fantasia.
Sensações imaginadas que byte a byte
se aninham e se enredam no desejo do outro.
Estranho mundo digital.
Perigoso para o aprendiz de feiticeiro
Que ainda não sabe que o feitiço virtual
transforma o quase nada
em muito.
Confiro o mail, busco mensagens.
Presa na trama da rede,
envolta em malha de fios virtuais e ausências reais.
Uma estranha forma de se relacionar
Uma maneira singular do gostar conjugar.
Palavras, reticências, parênteses e símbolos
desafiam a distância e provocam na pele
um arrepio real.
Emoções digitadas, como um toque sutil
Entreabrem lábios, provocam calor
A textura da boca, a maciez de um lábio,
o gosto da pele.
A quentura do corpo, o toque dos sexos,
o perfume do hálito
e uma ânsia de contato que lateja,
carente de tato, olfato e visão.
O poder do sonho, a atração da fantasia.
Sensações imaginadas que byte a byte
se aninham e se enredam no desejo do outro.
Estranho mundo digital.
Perigoso para o aprendiz de feiticeiro
Que ainda não sabe que o feitiço virtual
transforma o quase nada
em muito.
sábado, novembro 22, 2003
NÃO FAZ MUITO TEMPO
Não faz muito tempo,
Achava que havia uma conjugação terrível
Entre dois.
Implícita, draconiana,
mesmo quando não se pudesse mais.
Pensava que os gestos de amor
tivessem que ser eternos.
Não apenas ternos,
não apenas gestos,
Mas decretos.
E ficava desolada
quando, ao final,
vislumbrava restos
daqueles gestos.
Impossíveis de manter
ou de perder.
Conjugar verbos de viver
é sabê-los
transitivos
transitórios
transientes.
nunca
permanentes.
Talvez, apenas,
teimosamente
persistentes.
CONVITE
Caminha comigo pela trilha que margeia a montanha,
Olhemos juntos a paisagem.
Te aponto o mar, cortado em lascas de jade e chumbo
e sorrio indicando a espuma branca de encontro às pedras...
Me mostras uma orquídea rajada, que linda!,
o nome em latim de uma árvore e um lagarto fugidio junto às pedras...
Apresento a ilha ao longe, a linha do infinito embebida em mar,
as nuvens lá do céu, caprichosas a mover...
Me revelas o ninho oculto do pássaro na sombra da árvore e
a prata delicada da teia de aranha
reluzindo ao sol.
Dá-me a mão e vem pelo caminho do pássaro.
Bem-te-vi? diz ele....bem-te-vi.....
Sou o caminho
a revelar.
Vem ser o pássaro
a me enxergar.
Olhemos juntos a paisagem.
Te aponto o mar, cortado em lascas de jade e chumbo
e sorrio indicando a espuma branca de encontro às pedras...
Me mostras uma orquídea rajada, que linda!,
o nome em latim de uma árvore e um lagarto fugidio junto às pedras...
Apresento a ilha ao longe, a linha do infinito embebida em mar,
as nuvens lá do céu, caprichosas a mover...
Me revelas o ninho oculto do pássaro na sombra da árvore e
a prata delicada da teia de aranha
reluzindo ao sol.
Dá-me a mão e vem pelo caminho do pássaro.
Bem-te-vi? diz ele....bem-te-vi.....
Sou o caminho
a revelar.
Vem ser o pássaro
a me enxergar.
sexta-feira, novembro 21, 2003
Adoro contar histórias e adoro histórias. Por isso, meu encanto por Scherazade.
Para ela, literalmente, a vida se sustenta pelo fio da narrativa. É o que a mantém viva, assim como à todas as mulheres do reino, esta narrativa que ela inventa e recorda e narra ao rei, cego de raiva, de descrença e ressentimento.
Scherazade conta histórias que, ela pressente, coisas de mulher, serão próximas ao coração do homem.
Scherazade é sábia. Ela dá, ao seu homem e à si mesma tempo, tempo para que as feridas cicatrizem, tempo para que nasça de novo o que havia sido ferido de morte.
Para ela, literalmente, a vida se sustenta pelo fio da narrativa. É o que a mantém viva, assim como à todas as mulheres do reino, esta narrativa que ela inventa e recorda e narra ao rei, cego de raiva, de descrença e ressentimento.
Scherazade conta histórias que, ela pressente, coisas de mulher, serão próximas ao coração do homem.
Scherazade é sábia. Ela dá, ao seu homem e à si mesma tempo, tempo para que as feridas cicatrizem, tempo para que nasça de novo o que havia sido ferido de morte.
quarta-feira, novembro 19, 2003
MEMÓRIA REVISITADA
Reminiscência dupla: De minha infância e de um outro momento.
Meu projeto de menina era ser escritora. Sonhava e viajava nos livros, minha forma de escapar a um dia-a-dia que, com palavras generosas, posso descrever como mortalmente chato, na Tijuca de trinta e tantos anos atrás.
Lá, se combinava sapato com bolsa, comia-se frango com macarrão no almoço de família aos domingos, estudava-se em colégio de freiras, usavam-se vestidos feitos pela avó ou pela costureira da família, em geral, uma senhora viúva que contornava a penúria com os dons da agulha.
Meninas de boa família jamais eram rebeldes, mas filhas de Maria, como a prima modelo.
Dentro das casas meninas de família tinham aulas de bordado e piano, atormentando a todos e a si mesmas com escalas monótonas, repetidas boa parte da tarde. O bordado da toalha, já amassada e marcada de mãos, era desmanchado, para ser refeito, com mais capricho. Fora delas, os meninos soltavam pipas, jogavam bola, brigavam, brincavam, se divertiam, com shorts, sem camisa, descalços.
Meninas de família tinham uma vida intragável e para tornar essa chatura mais palatável eu lia, compulsivamente. Tudo. De Julio Verne e Jack London, Dumas, Zola, Steinbeck, os russos, Stendhal, todos os clássicos. Mas lia furtivamente a coleção de Querida e Grande Hotel- as revistas de fotonovelas de vovó. Ela as guardava num armário, junto à sapateira, no quarto dos fundos. Assim, apesar dos fundamentos intelectuais, encantei-me, desde cedo com O Romance - o universo feminino do romantismo piegas.
As histórias eram traduzidas de revistas italianas. Não sei se modelos ou atores, tinham sua escala de grandeza estabelecida. Alguns mais famosos e freqüentes, protagonistas perpétuos das fotonovelas principais. Giancarlo, Marisa, Arturo, eram esses nomes que povoavam o final de minha infância. Lia todas, às escondidas, durante a sesta de meus avós, deixando um livro permitido qualquer à mão, para o caso de chegar algum adulto perto.
Todas as mocinhas eram, pobres ou ricas, incompreendidas pela família, estóicas em sua vida de renúncia aos pecados mais diversos, munidas apenas da fortaleza de um coração puro e indômito!!!!
O mocinho, em geral, vivia num ambiente social diverso embora também não houvesse, para eles, grandes variações caracterológicas: Eram sempre audazes, e desafiavam convenções, famílias, normas sociais. Cabia a eles a aproximação e o resgate da mocinha de uma existência nulificada e injusta.
Cabia à débil mocinha, apenas ser desejada e descoberta pelo garboso príncipe.
Dessa forma, a chatura e a passividade da vida feminina se repetiam, na ficção e na realidade. Na ficção sempre existia um príncipe que resgatava a mocinha e a transformava na princesa de sua vida. Na vida real, apenas o cotidiano.
A solução, se é que se pode chamar de solução, estava ali, diante de meus olhos: aprender a guardar secretamente dentro de si o turbilhão de emoções, no quarto dos fundos, sonhos e nomes estrangeiros. Aprender a cozinhar, bordar, pois para saber mandar é preciso saber fazer, ser graciosa, feminina, estar pronta para o príncipe quando ele chegar.
Quando ele chegava era quase príncipe, quase sapo, quase ogro. Era sempre quase qualquer coisa, nunca o príncipe da novela, mas, depois de tanta espera, ninguém fica tão exigente assim. Começo de espera, no entanto: Aí vinham a espera dos bebês, dos netos e dos romances nunca concretizados. Mulheres aprendiam a esperar desde cedo.
Tudo isso pode parecer muito cafona e datado hoje em dia. No entanto, mesmo atualizando personagens, eu me pergunto se ainda não buscamos o bendito príncipe, de roupagem moderninha, mas príncipe de qualquer jeito, para o príncipe e a princesa escondidos no fundo de cada um.
Talvez todo mundo tenha um sonho de realeza, de poder ser príncipe sedutor ou princesa encantadora, merecedores um do outro, equalizados na perfeição. Estão lá, imortais, esperando uma invocação, ou na linguagem das fadas, à espera de serem acordados de um sono profundo ou retirados de torres altas ou masmorras escuras do nosso esquecimento.
Meu projeto de menina era ser escritora. Sonhava e viajava nos livros, minha forma de escapar a um dia-a-dia que, com palavras generosas, posso descrever como mortalmente chato, na Tijuca de trinta e tantos anos atrás.
Lá, se combinava sapato com bolsa, comia-se frango com macarrão no almoço de família aos domingos, estudava-se em colégio de freiras, usavam-se vestidos feitos pela avó ou pela costureira da família, em geral, uma senhora viúva que contornava a penúria com os dons da agulha.
Meninas de boa família jamais eram rebeldes, mas filhas de Maria, como a prima modelo.
Dentro das casas meninas de família tinham aulas de bordado e piano, atormentando a todos e a si mesmas com escalas monótonas, repetidas boa parte da tarde. O bordado da toalha, já amassada e marcada de mãos, era desmanchado, para ser refeito, com mais capricho. Fora delas, os meninos soltavam pipas, jogavam bola, brigavam, brincavam, se divertiam, com shorts, sem camisa, descalços.
Meninas de família tinham uma vida intragável e para tornar essa chatura mais palatável eu lia, compulsivamente. Tudo. De Julio Verne e Jack London, Dumas, Zola, Steinbeck, os russos, Stendhal, todos os clássicos. Mas lia furtivamente a coleção de Querida e Grande Hotel- as revistas de fotonovelas de vovó. Ela as guardava num armário, junto à sapateira, no quarto dos fundos. Assim, apesar dos fundamentos intelectuais, encantei-me, desde cedo com O Romance - o universo feminino do romantismo piegas.
As histórias eram traduzidas de revistas italianas. Não sei se modelos ou atores, tinham sua escala de grandeza estabelecida. Alguns mais famosos e freqüentes, protagonistas perpétuos das fotonovelas principais. Giancarlo, Marisa, Arturo, eram esses nomes que povoavam o final de minha infância. Lia todas, às escondidas, durante a sesta de meus avós, deixando um livro permitido qualquer à mão, para o caso de chegar algum adulto perto.
Todas as mocinhas eram, pobres ou ricas, incompreendidas pela família, estóicas em sua vida de renúncia aos pecados mais diversos, munidas apenas da fortaleza de um coração puro e indômito!!!!
O mocinho, em geral, vivia num ambiente social diverso embora também não houvesse, para eles, grandes variações caracterológicas: Eram sempre audazes, e desafiavam convenções, famílias, normas sociais. Cabia a eles a aproximação e o resgate da mocinha de uma existência nulificada e injusta.
Cabia à débil mocinha, apenas ser desejada e descoberta pelo garboso príncipe.
Dessa forma, a chatura e a passividade da vida feminina se repetiam, na ficção e na realidade. Na ficção sempre existia um príncipe que resgatava a mocinha e a transformava na princesa de sua vida. Na vida real, apenas o cotidiano.
A solução, se é que se pode chamar de solução, estava ali, diante de meus olhos: aprender a guardar secretamente dentro de si o turbilhão de emoções, no quarto dos fundos, sonhos e nomes estrangeiros. Aprender a cozinhar, bordar, pois para saber mandar é preciso saber fazer, ser graciosa, feminina, estar pronta para o príncipe quando ele chegar.
Quando ele chegava era quase príncipe, quase sapo, quase ogro. Era sempre quase qualquer coisa, nunca o príncipe da novela, mas, depois de tanta espera, ninguém fica tão exigente assim. Começo de espera, no entanto: Aí vinham a espera dos bebês, dos netos e dos romances nunca concretizados. Mulheres aprendiam a esperar desde cedo.
Tudo isso pode parecer muito cafona e datado hoje em dia. No entanto, mesmo atualizando personagens, eu me pergunto se ainda não buscamos o bendito príncipe, de roupagem moderninha, mas príncipe de qualquer jeito, para o príncipe e a princesa escondidos no fundo de cada um.
Talvez todo mundo tenha um sonho de realeza, de poder ser príncipe sedutor ou princesa encantadora, merecedores um do outro, equalizados na perfeição. Estão lá, imortais, esperando uma invocação, ou na linguagem das fadas, à espera de serem acordados de um sono profundo ou retirados de torres altas ou masmorras escuras do nosso esquecimento.
terça-feira, novembro 18, 2003
A Vendedora de Palavras
Belisa Crepusculario era uma vendedora de palavras. Para ela, a linguagem era um fio inesgotável, tecido como se a vida se fizesse ao contá-la.
Belisa também vendia contos,
“...mas não eram contos de fantasia e, sim, longas histórias verdadeiras que recitava de enfiada, sem nada saltar. Assim levava as notícias de um aldeia para a outra. As pessoas lhe pagavam para juntar uma ou duas linhas: nasceu um menino, morreu fulano, casaram-se nossos filhos, queimaram-se as colheitas. (...) A quem lhe comprasse cinqüenta centavos, dava de presente uma palavra secreta para afugentar a melancolia. Não era a mesma para todos, certamente, porque isso teria sido um engano coletivo. Cada um recebia a sua, com a certeza de que ninguém mais a empregava para esse fim no universo inteiro e para além dele.”
(Allende, Isabel- Contos de Eva Luna – p.14)
Somos todos contadores de histórias. Diferentes de Belisa, não as vendemos, damos.
Não por sermos bons e generosos mas por precisarmos de testemunhos. Contar uma história implica em, no mínimo, dois, pois necessito que alguém que esteja comigo a me ouvir. Ao contar uma história, conto a minha história. Não há um contador de histórias sem história ou uma história sem seu contador. E não há nem um nem outro se não houver uma platéia a quem esta história for dirigida. Como é comum entre os contadores e sua audiência, contamos um conto que, mesmo tendo sido contado inúmeras vezes, pelo próprio ato de contar, é recriado, a cada vez, em um novo conto.
Contamos contos para contar-nos quem somos.
Mal escrevo e Anouk comenta: E os contos que ela conta para ela mesma?
Eu respondo como vejo e sinto: A voz que me conta um conto é sempre a voz de um outro. Mesmo quando essa voz é minha.
Belisa também vendia contos,
“...mas não eram contos de fantasia e, sim, longas histórias verdadeiras que recitava de enfiada, sem nada saltar. Assim levava as notícias de um aldeia para a outra. As pessoas lhe pagavam para juntar uma ou duas linhas: nasceu um menino, morreu fulano, casaram-se nossos filhos, queimaram-se as colheitas. (...) A quem lhe comprasse cinqüenta centavos, dava de presente uma palavra secreta para afugentar a melancolia. Não era a mesma para todos, certamente, porque isso teria sido um engano coletivo. Cada um recebia a sua, com a certeza de que ninguém mais a empregava para esse fim no universo inteiro e para além dele.”
(Allende, Isabel- Contos de Eva Luna – p.14)
Somos todos contadores de histórias. Diferentes de Belisa, não as vendemos, damos.
Não por sermos bons e generosos mas por precisarmos de testemunhos. Contar uma história implica em, no mínimo, dois, pois necessito que alguém que esteja comigo a me ouvir. Ao contar uma história, conto a minha história. Não há um contador de histórias sem história ou uma história sem seu contador. E não há nem um nem outro se não houver uma platéia a quem esta história for dirigida. Como é comum entre os contadores e sua audiência, contamos um conto que, mesmo tendo sido contado inúmeras vezes, pelo próprio ato de contar, é recriado, a cada vez, em um novo conto.
Contamos contos para contar-nos quem somos.
Mal escrevo e Anouk comenta: E os contos que ela conta para ela mesma?
Eu respondo como vejo e sinto: A voz que me conta um conto é sempre a voz de um outro. Mesmo quando essa voz é minha.
sábado, novembro 15, 2003
PALAVRAS E TEXTOS
Palavras são suscetíveis, cheias de sensibilidades. São bem mulherzinhas. Ora reticentes, elusivas, quase intratáveis. Ora docemente disponíveis, quase que antevendo os pensamentos, pedindo: me tome, me use.
Detestam serem tratadas com displicência, sem respeito à música e à métrica silenciosa que emitem. Exigem interesse e amorosidade para poderem se abrir e se entregar.
Já os textos são homens. Exibem sua forma e força mais ostensivamente. Em geral, são mais generalistas, menos suscetíveis à nuance, ao detalhe.
Textos são globais, palavras são locais.
Mas o que acho mais interessante e provocativo é que textos, como homens, tem uma dívida ancestral com o feminino. São gerados pelo feminino, palavra ou mulher, e poucos superam, de todo, o temor provocado pela dívida de sua criação.
Detestam serem tratadas com displicência, sem respeito à música e à métrica silenciosa que emitem. Exigem interesse e amorosidade para poderem se abrir e se entregar.
Já os textos são homens. Exibem sua forma e força mais ostensivamente. Em geral, são mais generalistas, menos suscetíveis à nuance, ao detalhe.
Textos são globais, palavras são locais.
Mas o que acho mais interessante e provocativo é que textos, como homens, tem uma dívida ancestral com o feminino. São gerados pelo feminino, palavra ou mulher, e poucos superam, de todo, o temor provocado pela dívida de sua criação.
GUARDADOS
Todo mundo já encontrou, remexendo seus guardados, algo que surge do passado com uma força surpreendente. Releio, supresa com sua atualidade, um texto que parece de outro mas é meu.
Vivo um dia-a-dia de plebéia, na terra, com muitas e boas experiências e com uma série de ausências significativas que não tento tamponar com relações rolha.
Gostaria de escrever textos profundos, que causassem admiração e impacto, ou uma poesia que tocasse profundamente as sensibilidades.
Minha vida,no entanto, assim como meus escritos, tem sido prosaica, feita de pequenos atos, conquistas insignificantes, detalhes.
O que posso oferecer, hoje, é a intimidade das pequenas coisas.
Vivo um dia-a-dia de plebéia, na terra, com muitas e boas experiências e com uma série de ausências significativas que não tento tamponar com relações rolha.
Gostaria de escrever textos profundos, que causassem admiração e impacto, ou uma poesia que tocasse profundamente as sensibilidades.
Minha vida,no entanto, assim como meus escritos, tem sido prosaica, feita de pequenos atos, conquistas insignificantes, detalhes.
O que posso oferecer, hoje, é a intimidade das pequenas coisas.
quinta-feira, novembro 13, 2003
ALMAS LEITORAS, UM REPTO
Vou replicar parte de um diálogo travado pelo MSN com um amigo. Quem topa palpitar no assunto?
Nina diz:
esses emoticons são uma invenção bem interessante. Adoro estes bonequinhos de abraço. Abraço é tão bom, tão bom mas tão bom que a palavra é muito aquém do gesto.
D. diz:
Raramente faço isso, mas dessa vez vou discordar de você. A palavra, no meu modo de ver, vai muito além de qualquer gesto. Porque ela, a palavra, pode ser o que você quiser. A palavra "abraço", por exemplo, cada vez que você a lê, ou escreve, ou escuta pode imaginá-la de uma maneira particular, adequada ao momento e à pessoa ou, simplesmente, ao seu estado de espírito.
Nina diz:
Estou meio brigada com as palavras, meu querido, pode ser daí esta minha afirmativa. Elas me feriram demais recentemente. Talvez porque o gesto seja inequívoco eu o prefira no momento. Sinceramente, estou vendo na simplicidade, o mérito.
Nina diz:
Eu o prefira, no momento. (momento de correção gramatical)
D. diz:
As palavras só pertencem ao idioma, enquanto não são utilizadas. A partir desse momento mágico, são nossas e podemos fazer com elas o que nos aprouver. Deturpar-lhe o sentido, usá-la como metáfora, associá-la a uma lembrança ou a alguém, guardá-la no recôndito do nosso sacrário ou mesmo estiolá-la. As palavras têm propriedades mágicas e às vezes, vontade própria - teimam
D. diz:
em não aceitar o sentido que lhe queremos imputar.
O QUE ACHAM? PALAVRAS OU GESTOS? OU CADA MACACO NO SEU GALHO?
Cartas para a redação.. oops.. recados nos comments
Nina diz:
esses emoticons são uma invenção bem interessante. Adoro estes bonequinhos de abraço. Abraço é tão bom, tão bom mas tão bom que a palavra é muito aquém do gesto.
D. diz:
Raramente faço isso, mas dessa vez vou discordar de você. A palavra, no meu modo de ver, vai muito além de qualquer gesto. Porque ela, a palavra, pode ser o que você quiser. A palavra "abraço", por exemplo, cada vez que você a lê, ou escreve, ou escuta pode imaginá-la de uma maneira particular, adequada ao momento e à pessoa ou, simplesmente, ao seu estado de espírito.
Nina diz:
Estou meio brigada com as palavras, meu querido, pode ser daí esta minha afirmativa. Elas me feriram demais recentemente. Talvez porque o gesto seja inequívoco eu o prefira no momento. Sinceramente, estou vendo na simplicidade, o mérito.
Nina diz:
Eu o prefira, no momento. (momento de correção gramatical)
D. diz:
As palavras só pertencem ao idioma, enquanto não são utilizadas. A partir desse momento mágico, são nossas e podemos fazer com elas o que nos aprouver. Deturpar-lhe o sentido, usá-la como metáfora, associá-la a uma lembrança ou a alguém, guardá-la no recôndito do nosso sacrário ou mesmo estiolá-la. As palavras têm propriedades mágicas e às vezes, vontade própria - teimam
D. diz:
em não aceitar o sentido que lhe queremos imputar.
O QUE ACHAM? PALAVRAS OU GESTOS? OU CADA MACACO NO SEU GALHO?
Cartas para a redação.. oops.. recados nos comments
quarta-feira, novembro 12, 2003
SOBRE BLOGS E POEMAS
Como tem gente que escreve bem nesse mundo!
Passeio de blog em blog, cativada pela fina prosa, o humor, o talento. É arte naquilo que a arte tem de melhor: o que foi escrito, incita, provoca novos escritos. Somos leitores e autores de cada texto.
Neuronios Cor de Rosa, Ouro sobre Azul , Caderno Mágico, Modus Vivendi, Lixando Tudo, Azul Cobalto, Branco.
Começando pelo colorido dos nomes, tudo aqui é visualmente rico, esbanjando cores, imagens e sons, tentando cativar olhos inquietos para leituras sem tato.
Queria saber essa linguagem de blog- HTML, parece - híbrido ( para mim) de sânscrito e hieróglifo. Iria criar os links necessários e levaria cada visitante a passear, espiando curiosos ou nos aboletando em um canto, a ler, esquecidos do tempo e do mundo de fora, encantados.
Aposto que Mario Quintana, se estivesse vivo, seria um blogueiro. É dele o pema abaixo:
OS POEMAS( e blogs também!!!)
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não tem pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Passeio de blog em blog, cativada pela fina prosa, o humor, o talento. É arte naquilo que a arte tem de melhor: o que foi escrito, incita, provoca novos escritos. Somos leitores e autores de cada texto.
Neuronios Cor de Rosa, Ouro sobre Azul , Caderno Mágico, Modus Vivendi, Lixando Tudo, Azul Cobalto, Branco.
Começando pelo colorido dos nomes, tudo aqui é visualmente rico, esbanjando cores, imagens e sons, tentando cativar olhos inquietos para leituras sem tato.
Queria saber essa linguagem de blog- HTML, parece - híbrido ( para mim) de sânscrito e hieróglifo. Iria criar os links necessários e levaria cada visitante a passear, espiando curiosos ou nos aboletando em um canto, a ler, esquecidos do tempo e do mundo de fora, encantados.
Aposto que Mario Quintana, se estivesse vivo, seria um blogueiro. É dele o pema abaixo:
OS POEMAS( e blogs também!!!)
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não tem pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
TUDO É MEU DE MADRUGADA
A madrugada é minha hora, estes dias. Tudo é meu de madrugada. O silêncio é meu, minhas horas são minhas, olho-me para dentro e me aposso de mim.
Sorrio como o gato de Alice diante da tela, me estico e me espreguiço e olho em volta mais uma vez, tornando esta noite minha com meu olhar.
Sorrio como o gato de Alice diante da tela, me estico e me espreguiço e olho em volta mais uma vez, tornando esta noite minha com meu olhar.
segunda-feira, novembro 10, 2003
FIM DE ANO
There will be time, there will be time
To prepare a face to meet the faces that you meet;
There will be time to murder and create,
And time for all the works and days of hands
That lift and drop a question on your plate:
Time for you and time for me,
And time yet for a hundred indecisions,
And for a hundred visions and revisions,
Before the taking of a toast and tea.
( T.S.Eliot)
O ano quase acabando, a folhinha cada vez mais fina, a agenda cada vez mais cheia de notas e orelhas. Mais um pouco e é tempo de comprar outra agenda, ganhar outro calendário, transbordantes de meses, dias e datas a serem preenchidos, sem que saibamos com o quê.
Não é o ano da folhinha que marca o tempo na vida. É a marca, são as marcas que recebemos e fazemos ao longo dela. Na agenda frente a mim, reconheço marcas dessas marcas: o tempo trabalhado, o encontro marcado, o telefone rabiscado às pressas, datas de aniversário, horário de médico, lista de compra, o dia de viagem, período fértil, idéia de presente, rabisco distraído, compromisso esquecido.
Algumas folhas indicam um tempo maior que o tempo dos dias, tempo liberto das horas, tempo de férias, tempos de encontros, ai que bom, tempos de perda, ai, a dor. Desses tempos, as marcas são outras, gravadas na boca, no olho, no corpo e na casa.
Outras páginas, intocadas, alvos enigmas, sequer deixam vestígio do que se passou, destino merecido de horas em branco.
Folheio minha agenda, e releio minha história, aos saltos, para frente e para trás e no agora, criando outros sentidos, brincando com minhas dúvidas, arranjando outras novas, sem ter certeza de quase nada, mas já desconfiando de algumas coisas, entre elas de que adoro Guimarães Rosa.
P.S. Acabei de receber por e-mail: "Sempre que possível, converse com um saco de cimento. Nessa vida só devemos acreditar naquilo que um dia pode ser concreto”.
sábado, novembro 08, 2003
PEDRAS NO MEU CAMINHO (HANNY)
Um membro muito querido do clube, Hanny, enviou, por mail, suas inquietações.
Obrigada, babe.
Bem vinda seja! Almas, escrevam conosco!!
Beijos
NIna
Pedras no meu caminho
E, de repente, a gente tropeça.... a pedra estava ali, sempre esteve, e a gente não percebeu. Talvez porque não quisesse perceber, talvez porque a visão do irreal estivesse muito mais brilhante, logo ali a frente, ao alcance da mão... a gente aperta o passo, o tempo é curto, quer chegar logo a esse lugar de delícias e não olha para o chão.... e tropeça... e cai.
O contato com o chão nos traz de volta a realidade... não existe o mundo que nosso sonho criou. E nos curvamos ao tempo, ao que fizemos dele e ao que ele fez conosco.
Eu desabo quando....
- sinto que deixei passar o momento...
- percebo que não consegui marcar o gol da vitória (a defesa adversária estava mais bem preparada)...
- por puro comodismo, me calo...
- aceito ser 'a mulher de alguém', 'a filha de alguém', 'a irmã de alguém', 'a mãe de alguém'... e nunca ser esse alguém...
- perco o bonde
- concedo mais do que deveria
- sou intransigente demais
- não sei dizer não com doçura
- entro na 'toca'... e fico lutando com o invisível (que ganha sempre...)
- adio decisões com desculpas esfarrapadas (amanhã farei, na próxima semana eu irei, um dia direi...)
- permito que tomem o meu espaço
- deixo que pensem que fiz coisas que nunca fiz
- só consigo ver uma das faces do espelho (dizem que o espelho tem duas faces...)
- procuro, e não encontro
- espero, e não acontece
- grito, e o eco não me responde.
São essas pedras que atravessam a nossa estrada, pedras que estamos sempre contornando, ignorando. Às vezes, ferem nossos pés, mas nós suportamos a dor porque temos os olhos presos a um objetivo final.
Mas não conseguimos sempre e de repente, é inevitável... a gente tropeça...
Engolir a poeira do caminho, fazer uma pausa na caminhada e beber um gole de àgua para renovar as forças, colocar-se de joelhos e reerguer-se para continuar. Não há tempo para pausas longas, o futuro está logo ali... Precisamos ir ao encontro dele, seja ele da maneira que for...
O reiniciar a caminhada é sempre penoso, mas vamos em frente....
Obrigada, babe.
Bem vinda seja! Almas, escrevam conosco!!
Beijos
NIna
Pedras no meu caminho
E, de repente, a gente tropeça.... a pedra estava ali, sempre esteve, e a gente não percebeu. Talvez porque não quisesse perceber, talvez porque a visão do irreal estivesse muito mais brilhante, logo ali a frente, ao alcance da mão... a gente aperta o passo, o tempo é curto, quer chegar logo a esse lugar de delícias e não olha para o chão.... e tropeça... e cai.
O contato com o chão nos traz de volta a realidade... não existe o mundo que nosso sonho criou. E nos curvamos ao tempo, ao que fizemos dele e ao que ele fez conosco.
Eu desabo quando....
- sinto que deixei passar o momento...
- percebo que não consegui marcar o gol da vitória (a defesa adversária estava mais bem preparada)...
- por puro comodismo, me calo...
- aceito ser 'a mulher de alguém', 'a filha de alguém', 'a irmã de alguém', 'a mãe de alguém'... e nunca ser esse alguém...
- perco o bonde
- concedo mais do que deveria
- sou intransigente demais
- não sei dizer não com doçura
- entro na 'toca'... e fico lutando com o invisível (que ganha sempre...)
- adio decisões com desculpas esfarrapadas (amanhã farei, na próxima semana eu irei, um dia direi...)
- permito que tomem o meu espaço
- deixo que pensem que fiz coisas que nunca fiz
- só consigo ver uma das faces do espelho (dizem que o espelho tem duas faces...)
- procuro, e não encontro
- espero, e não acontece
- grito, e o eco não me responde.
São essas pedras que atravessam a nossa estrada, pedras que estamos sempre contornando, ignorando. Às vezes, ferem nossos pés, mas nós suportamos a dor porque temos os olhos presos a um objetivo final.
Mas não conseguimos sempre e de repente, é inevitável... a gente tropeça...
Engolir a poeira do caminho, fazer uma pausa na caminhada e beber um gole de àgua para renovar as forças, colocar-se de joelhos e reerguer-se para continuar. Não há tempo para pausas longas, o futuro está logo ali... Precisamos ir ao encontro dele, seja ele da maneira que for...
O reiniciar a caminhada é sempre penoso, mas vamos em frente....
sexta-feira, novembro 07, 2003
O NOME SECRETO
As coisas escondidas e fugidias se esquecem de fugir quando o poeta as chama pelo verdadeiro nome. (Bachelard)
Qual é o verdadeiro nome de algo?
O verdadeiro nome não deve ser o nome convencional. Precisa ser um nome criado na intimidade e na cumplicidade, signo de uma história compartilhada.
Minha filha mais velha tinha quase 5 anos quando sua irmã nasceu e ela me ensinou sobre isso.
Perguntou-me baixinho se poderia escolher o nome secreto do bebê.
Retruquei, intrigada: -Como é ter um nome secreto?
Ela me diz: -Eu tenho um nome secreto. É aquele, que só você e o papai me chamam, inventado para mim quando eu era neném. Quando vocês me chamam assim, eu sei que sou eu.
Nesse dia, todos ganhamos nomes secretos para podermos saber quem éramos.
Nomes únicos e infinitamente belos, conquistada verdade no encontro amoroso.
Qual é o verdadeiro nome de algo?
O verdadeiro nome não deve ser o nome convencional. Precisa ser um nome criado na intimidade e na cumplicidade, signo de uma história compartilhada.
Minha filha mais velha tinha quase 5 anos quando sua irmã nasceu e ela me ensinou sobre isso.
Perguntou-me baixinho se poderia escolher o nome secreto do bebê.
Retruquei, intrigada: -Como é ter um nome secreto?
Ela me diz: -Eu tenho um nome secreto. É aquele, que só você e o papai me chamam, inventado para mim quando eu era neném. Quando vocês me chamam assim, eu sei que sou eu.
Nesse dia, todos ganhamos nomes secretos para podermos saber quem éramos.
Nomes únicos e infinitamente belos, conquistada verdade no encontro amoroso.
QUASE
Não sei dizer:Te quero.
Quero esse homem:
De carne, osso e cama.
Impulso contido.
Sem marca ou sinal,
salvo um toque casual.
Tem o olho que chama,
e o corpo que clama,
e a boca que cala.
E fica esse ardor,
com jeito de quase dor.
Se quase amor?
Não sei.
Quero esse homem:
De carne, osso e cama.
Impulso contido.
Sem marca ou sinal,
salvo um toque casual.
Tem o olho que chama,
e o corpo que clama,
e a boca que cala.
E fica esse ardor,
com jeito de quase dor.
Se quase amor?
Não sei.
quarta-feira, novembro 05, 2003
BREVE RECADO
Amigo Pim de além mar,
Tens feito, estes dias, uma contabilidade bem zangada de tua Lisboa querida.
Tanta zanga vem de muito amor, eu sei. Brigue, mas não deixe que te tirem o humor.
Tome um café por mim, num bar em frente à Bertrand. Antes disso, bem cedo, veja a vista dos Jerônimos. É de perder o ar!
Um beijo gripado e febril
Nina
Tens feito, estes dias, uma contabilidade bem zangada de tua Lisboa querida.
Tanta zanga vem de muito amor, eu sei. Brigue, mas não deixe que te tirem o humor.
Tome um café por mim, num bar em frente à Bertrand. Antes disso, bem cedo, veja a vista dos Jerônimos. É de perder o ar!
Um beijo gripado e febril
Nina
terça-feira, novembro 04, 2003
TEMPO ...TEMPO... TEMPO
O tempo afaga e castiga. Ele tira aquilo que só ele nos dá , enquanto que , estranho paradoxo, ele nós dá exatamente aquilo que ameniza a dor daquilo que nos tirou. O tempo que renasce, espanando a poeira do esquecimento daquele fato pequeno, apagado , que ressurge com força numa outra forma, num outro momento, deixando a gente sem ação, perdida nesse raio que rasga folhinhas e datas... abrindo uma passagem entre passado e presente, coincidindo momentos , sentimentos, mostrando o sempre de uma forma concreta.
Esse tempo é o tempo que suaviza a dor, que embeleza a lembrança, das memórias plurais, mutantes , sempre diferentes a cada novo momento que passa a ser vivido. O tempo que faz a gente querer ser velho, só prá poder ser sábio e, ao mesmo tempo, que nós dá uma saudade imensa da época em que loucura era não tentar ser tudo.
Esse tempo é o tempo que suaviza a dor, que embeleza a lembrança, das memórias plurais, mutantes , sempre diferentes a cada novo momento que passa a ser vivido. O tempo que faz a gente querer ser velho, só prá poder ser sábio e, ao mesmo tempo, que nós dá uma saudade imensa da época em que loucura era não tentar ser tudo.
O CORAÇÃO DENUNCIADOR
Esta história não é nova, mas é uma de minhas prediletas !!!!
O sábado parecia auspicioso. Fim de semana cheio de convites, quis aproveitar o máximo que podia. Um lauto almoço na casa de uma amiga que fazia aniversário, onde ri, conversei, reencontrei pessoas que não via há vinte anos. À noite, uma festa em um clube italiano, convidada por outra amiga e o marido que moram em Sampa. A amiga sugere coisas interessantes – boa comida, bons vinhos, animação, um papo saudoso. Topo sem hesitar.
Quando lá chegamos, tive a nítida impressão de que era a pré-estréia de “Jurassic Park”. Definitivamente, o somatório das idades dos presentes chegava ao período antediluviano!
A festa era animada (!!!) por um suposto galã de olhos melancólicos e voz edulcorada, bradando “Dio, come ti amo”, ... Nos intervalos, um acordeão.
Compreendo que, por bom senso, não queriam tocar nada por demais excitante. Tenho certeza de que o preço do ingresso não incluía uma estadia no hospital cardiológico mais próximo nem um reumatologista de plantão, para restaurar acidentes de percurso. Lembrei-me que era uma ocasião festiva e o tal clube não devia ser equipado, como o Queen Elizabeth, com um necrotério próprio (É verdade! Li não sei onde e fiquei impressionadíssima! Parece que a idade média dos ricaços navegadores exige tais cuidados).
Esta parte da noite foi salva pelo encontro com os amigos e uma sessão de tarantella, para a qual fui convidada por um dos provectos cavalheiros presentes, tendo na ocasião a oportunidade de repensar a capacitação aeróbica da terceira idade. No final eu estava mais arquejante que o dito cujo. Juro que paro de fumar!
Minha amiga estava com uma prima e uma amiga desta que, indignadas pelo quantum de emoção oferecido, me convidaram para esticar a noite. Como estou em fase de topar ir a bingo em quermesse de subúrbio, aceitei.
Decidido o lugar, lá fomos nós. Quando chegamos, o local estava cheio, a música animada. Era uma festa para “singles”. Pensei com meus botões: “- Vou poder por a aula de dança em prática. Foi uma boa escolha...”
Ficamos no bar até que uma mesa vagasse e quase que de imediato um fulano vem tirar a prima para dançar. Argentino, com um bigodão vasto, vestido com um blazer que encobria algo brilhando na camisa.
Típico “Gardelón”, metido a engraçado, insinuando-se pra cima da moça, dizendo com aquele sotaque portenho: “- Veja o que você faz com meu coração!” Ele afasta a pala do blazer e mostra um broche. De plástico, em formato de coração, com uma pequena lâmpada vermelha que ficava piscando intermitentemente!
Quase engasguei com a bebida! Olhava, fascinada, para o conjunto de conversa mole, jeito clown e o tal coração piscando que nem luzinha de ambulância! Meus botões, atônitos como eu, assistem a prima, toda lampeira,flertar luminosamente com o bigode piscador.
A noite segue seu curso e convites também não me faltaram. Mas, tirando um certo cavalheiro bem razoável, o padrão era apenas um pouco melhor que esse relatado acima. Ser chamada de “boneca” ou então ouvir: “- Fala!” - Ordem peremptória para que eu alardeasse minhas boas qualidades – faziam com que eu tivesse um impulso irresistível de juntar as mãos ao peito, arfar e mostrar que era bem treinada em docilidade!
A gota d’água foi quando, mais ou menos uns quarenta minutos depois, Gardelón e a prima se sentaram e ele, para exibir sua vasta cultura, saca do bolso um pequeno chip, exclamando que aquele pequenino pedaço de metal tinha mais inteligência que a loura cabecinha de sua recente conquista.
Diante de meu olhar abismado pela grosseria abissal, estende o chip para mim, dizendo: “- Veja! Isso aqui tem não sei quanto de memória!” E o raio do chip cai no meu copo, mergulhando entre rodelas de limão e cubos de gelo.
Olho para tudo, imóvel, incapaz de dizer alguma coisa. A amiga da prima pega meu copo, bebe o conteúdo, pega o chip entre os dentes, depois com a mão e entrega para o argentino. Este, satisfeito, dá um tapinha na mão dela e diz:
“- Gosto de mulheres assim!”
Não resisto. Levanto-me, pego minha bolsa, meu casaco, despeço-me de todos e vou embora. Ainda escuto o comentário atrás de mim:
“- Estranho, ela estava sendo bem procurada...” A amiga responde:
“- É que ela se separou há pouco, está estranhando...
Pego um taxi, aliviada de ir para casa, e fico a indagar-me sobre a vastidão do campo das escolhas pessoais e dos insondáveis mistérios que se ocultam no coração humano.
segunda-feira, novembro 03, 2003
CHOVE LÁ FORA
Chove muito, sem parar, desde sexta feira.
Pequenos rios escorrem na janela me lembrando um rosto molhado de choro.
Lugar comum, eu sei, mas pertinente, nesta melancólica e umidíssima manhã de segunda.
Minha avó me contava que chovia quando São Pedro lavava o céu e os trovões eram a mobília sendo arrastada de lá para cá.
Eu gostava de imaginar como seria lá em cima, misturando São Pedro de vestes e barbas brancas e eu, no lugar de Mickey aprendiz de feiticeiro.
Esfregões gigantes e baldes de pernas fazendo um estardalhaço imenso, tirando a seriedade de um lugar beatificamente monótono descrito pelas freiras do colégio. O meu céu era definitivamente mais animado e pensar nele me ajudava a passar o tédio de uma manhã de chuva, como hoje.
Pequenos rios escorrem na janela me lembrando um rosto molhado de choro.
Lugar comum, eu sei, mas pertinente, nesta melancólica e umidíssima manhã de segunda.
Minha avó me contava que chovia quando São Pedro lavava o céu e os trovões eram a mobília sendo arrastada de lá para cá.
Eu gostava de imaginar como seria lá em cima, misturando São Pedro de vestes e barbas brancas e eu, no lugar de Mickey aprendiz de feiticeiro.
Esfregões gigantes e baldes de pernas fazendo um estardalhaço imenso, tirando a seriedade de um lugar beatificamente monótono descrito pelas freiras do colégio. O meu céu era definitivamente mais animado e pensar nele me ajudava a passar o tédio de uma manhã de chuva, como hoje.
domingo, novembro 02, 2003
FALANDO DE DIZERES
Já que publiquei, hoje, um texto falando em dizeres, resolvi renovar em aberto o convite feito a alguns amigos. Meu propósito, neste blog, é poder falar com, não falar de ou falar sobre ninguém pois nada substitui o diálogo direto.
Que aqui seja apenas o primeiro movimento de ir ao encontro, de estabelecer um diálogo.
OBS-Blogueiros, a explicação inicial do e-mail é destinada àqueles que ainda não descobriram este espaço. Se a explicação não estiver boa, corrijam esta novata.
Convite para conhecer O Clube das Almas Inquietas.
http://clubedasalmasinquietas.blogspot.com/
O que é isso?
Primeiro: é um blog.
Blogs são páginas pessoais que apresentam comentários, textos selecionadas do criador do blog ou de outras pessoas, links com páginas interessantes, contos, imagens, fotos. Hoje em dia há photologs, blogs especializados em imagens, fotos.
Um blog costuma ser atualizado com certa regularidade, mantendo sua vitalidade. Pode ser escrito solo ou em grupo.
Pode ser confessional ou literário, ou uma mistura deles. Pode ser uma boa experiência ou um desastre.
Assim como qualquer coisa na internet, ele nunca vai ser totalmente distante daqueles que o criaram.
O Clube das Almas Inquietas é um playground onde comecei a escrever.
Vocês já devem estar acostumados com minhas maluquices e assim, convido os amigos inquietos e não tão inquietos e mais inquietos ainda, a visitar e palpitar.
Um beijo
******
PS- Almas inquietas desconhecidas e conhecidas de conhecidos são bem vindas.
PS- Podem escrever nos comments ou, se quiserem, enviar para o mail no blog que eu coloco no ar, com autoria.
Que aqui seja apenas o primeiro movimento de ir ao encontro, de estabelecer um diálogo.
OBS-Blogueiros, a explicação inicial do e-mail é destinada àqueles que ainda não descobriram este espaço. Se a explicação não estiver boa, corrijam esta novata.
Convite para conhecer O Clube das Almas Inquietas.
http://clubedasalmasinquietas.blogspot.com/
O que é isso?
Primeiro: é um blog.
Blogs são páginas pessoais que apresentam comentários, textos selecionadas do criador do blog ou de outras pessoas, links com páginas interessantes, contos, imagens, fotos. Hoje em dia há photologs, blogs especializados em imagens, fotos.
Um blog costuma ser atualizado com certa regularidade, mantendo sua vitalidade. Pode ser escrito solo ou em grupo.
Pode ser confessional ou literário, ou uma mistura deles. Pode ser uma boa experiência ou um desastre.
Assim como qualquer coisa na internet, ele nunca vai ser totalmente distante daqueles que o criaram.
O Clube das Almas Inquietas é um playground onde comecei a escrever.
Vocês já devem estar acostumados com minhas maluquices e assim, convido os amigos inquietos e não tão inquietos e mais inquietos ainda, a visitar e palpitar.
Um beijo
******
PS- Almas inquietas desconhecidas e conhecidas de conhecidos são bem vindas.
PS- Podem escrever nos comments ou, se quiserem, enviar para o mail no blog que eu coloco no ar, com autoria.
DIZERES
Não sei o que te digo
Pois não digo para dizer-te.
Digo-te para dizer-me.
Digo sobre o que me toma de mim
E me leva a ti.
Digo-te, sim, que aos poucos,
Seduzes, recuas, conquistas.
Digo-te que te moves e me comove.
Pois te escolho para capturar-me
Quando crias o desejo onde antes
Tão pouco estava.
Digo-te de todos os nãos
Que me preenchem.
Digo-te da falta que urge e da
Não presença que reclama seu lugar.
Digo-te como presente, quem és.
Tu, por tua vez,
Dize-me quem sou.
Digo-me a mim,
Afinal.
Pois não digo para dizer-te.
Digo-te para dizer-me.
Digo sobre o que me toma de mim
E me leva a ti.
Digo-te, sim, que aos poucos,
Seduzes, recuas, conquistas.
Digo-te que te moves e me comove.
Pois te escolho para capturar-me
Quando crias o desejo onde antes
Tão pouco estava.
Digo-te de todos os nãos
Que me preenchem.
Digo-te da falta que urge e da
Não presença que reclama seu lugar.
Digo-te como presente, quem és.
Tu, por tua vez,
Dize-me quem sou.
Digo-me a mim,
Afinal.
sábado, novembro 01, 2003
O PÁSSARO AZUL
Vi um filme, uma co-produção russo-americana ( parceria tão inusitada que registrei o detalhe) há muito tempo atrás - O Pássaro Azul - com a Elizabeth Taylor.
Duas crianças buscam o pássaro azul, que lhes daria a felicidade. Dentre os lugares percorridos, um deles é o país da memória, onde reencontram os avós, já falecidos. A emoção do encontro é aumentada com a surpresa e a descoberta de que não só os avós, como muitas coisas tidas como perdidas, foram ali encontradas.
Um deles conta a mágica aos netos:
Equanto houvesse alguém que se lembrasse deles, eles não morreriam.
Entendi, então, a imortalidade.
Duas crianças buscam o pássaro azul, que lhes daria a felicidade. Dentre os lugares percorridos, um deles é o país da memória, onde reencontram os avós, já falecidos. A emoção do encontro é aumentada com a surpresa e a descoberta de que não só os avós, como muitas coisas tidas como perdidas, foram ali encontradas.
Um deles conta a mágica aos netos:
Equanto houvesse alguém que se lembrasse deles, eles não morreriam.
Entendi, então, a imortalidade.